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A Águia Voando

Todas as coisas estão destinadas a serem renovadas. E a águia aponta para essa renovação. Isaías 40:31 diz: “Mas os que esperam no Senhor renovarão as suas forças. Subirão com asas como águias”. E o Salmo 103:4-5 diz que o Senhor é quem nos redime da perdição, e enche a nossa boca de bens, de sorte que a nossa “mocidade se renova como a da águia”. E é sobre essa renovação que falaram todos os profetas. Em seu segundo discurso após o Pentecostes, Pedro se refere aos “tempos da restauração de tudo, dos quais Deus falou pela boca de todos os seus santos profetas, desde o princípio”(At.3:21). O mesmo espírito que falava pela boca dos profetas é aquele que é enviando por Deus para “renovar a face da terra”(Sl.104:30).
O ser semelhante à águia voando aponta para o Espírito da Profecia. Apocalipse 19:10 afirma que “o testemunho de Jesus é o espírito da profecia”. E qual é o espírito da profecia? Reformulando a pergunta: em que direção apontam as profecias? Sobre o quê elas falam? Sobre destruição ou sobre renovação? Para respondermos a isso, temos que responder antes acerca do testemunho de Jesus.
Importa saber o que Aquele que está no Trono diz. Qual o Seu testemunho? Tudo o que dizem os profetas deve ser abalizado por aquilo que diz o Cristo entronizado. Vale observar que do quarto capítulo de Apocalipse, até o capítulo 20, não encontramos qualquer pronunciamento de Cristo. Encontramos selos, taças, trombetas, pragas, juízos, clamores, louvores, mas não encontramos qualquer pronunciamento direto, feito pelos lábios de Cristo. Até o capítulo 20, Deus fala apenas através dos anjos. Mas no capítulo 21, algo inusitado acontece. Atenção todos os moradores dos céus e da Terra! Aquietai-vos para ouvir o pronunciamento d’Aquele que está assentado no Trono:

“E o que estava assentado no trono disse: Faço novas todas as coisas. E disse-me: Escreve, pois estas palavras são verdadeiras e fiéis. Disse-me mais: Está cumprido. Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim”. Apocalipse 21:5-6a

Ele tem a palavra final! Os juízos de Deus não são um fim em si mesmos. O propósito de Deus não é a destruição de tudo, mas a sua inteira renovação. Tudo o que foi falado até agora, deve ser submetido à Palavra final, à revelação definitiva. Na palavras de Pedro, “temos ainda mais firme a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que ilumina em lugar escuro, até que o dia clarei, e a estrela da alva surja em vossos corações. Acima de tudo, lembrai-vos de que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Pois a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens santos da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo”(2 Pe.1:19-21). Não podemos isolar qualquer profecia de seu contexto mais amplo, e dar a ela uma interpretação particular. Todas elas só podem ser compreendidas quando lidas a partir de seu maior cumprimento: a Encarnação, Morte, Ressurreição e Entronização de Jesus Cristo.[1] O escritor sagrado diz que “havendo Deus outrara falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos destes últimos dias pelo Filho, a quem constitiu herdeiro de tudo, por quem fez o mundo. O Filho é o resplendor da sua glória e a expressa imagem da sua pessoa, sustentando todas as ocisas pela palavra do seu poder. Havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou[se à destra da Majestade nas alturas. Assim ele se tornou tanto mais excelente do que os anjos, quanto herdou mais excelente nome do que o deles (...) Pois se a palavra falada pelos anjos permaneceu firme, e toda violação e desobediência recebeu justa retribuição, como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? A qual começando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram. Também Deus testificou com eles, por meio de sinais, prodígios e vários milagres e dons do Espírito Santo, distribuídos segundo a sua vontade. Não foi aos anjos que Deus sujeitou o mundo vindouro, de que falamos”(Hb.1:1-4; 2:2-5).
Tudo o que fora dito por anjos, ou por profetas, tem o seu valor. Através deles, Deus revelou Seus mandamentos e juízos. Mas algo ficou oculto por muitos séculos: Seu propósito. Este só foi conhecido através da revelação do Filho de Deus. Embora tais propósitos já houvesse sido esboçados pelos profetas, eles permaneceram ocultos, para além da compreensão humana, até que Cristo no-los revelou pelo Seu Espírito (1 Co.2:10). Repare nas seguintes Escrituras:

“...conforme a revelação do mistério que desde tempos eternos esteve oculto, mas que se manifestou agora, e foi dado a conhecer pelas Escrituras dos profetas, segundo mandamento do Deus eterno, a todas as nações para obediência da fé”. Romanos 16:25b-26.

“E desvendou-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra”. Efésios 1:9-10

“E demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus, que a tudo criou (...) segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus nosso Senhor”. Efésios 3:9,11

O quê Cristo veio revelar, e que ainda não havia sido revelado plenamente? Quê propósito secreto seria esse? Paulo resume dizendo que o propósito oculto de Deus era o de fazer convergir em Cristo todas as coisas, dos céus e da Terra. Em outras palavras, o propósito eterno de Deus é desfazer o que o pecado produziu: separação. “Para isso se manifestou o Filho de Deus: para desfazer as obras do diabo”(1 Jo.3:8). O pecado trouxe ruptura entre o céu e a terra, e conseqüentemente, a alienação de toda a raça humana. Uma vez separado da fonte primeva, todo o Universo estava fadado a morrer. O homem foi a porta de entrada para o pecado no cosmos. Cristo veio reverter esse processo. Nele, céu e terra se unem novamente. E tudo aquilo que promovia separação, agora era desfeito em Sua própria carne (Ef.2:14). Seu sacrifício reconciliou a criação com o Seu Criador (Cl.1:20). E o fruto dessa reconciliação é a renovação de todas as coisas. Paulo brada com entusiasmo: “Portanto, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram, tudo se fez novo. E tudo isto provém de Deus que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo”(2 Co.5:17-18a).
Um novo céu e uma nova terra foram agora engendrados. A Cruz foi o lugar do reencontro entre o Pleroma Divino e o pleroma criado. Toda a realidade se unificou em Cristo. E desse casamento, foram concebidos “novo céu e nova terra”.
Embora a concepção tenha se dado na Cruz, aguardamos ansiosos, o momento do parto. Aquilo que hoje está sendo gerado em oculto, no ventre da criação atual, um dia vira à luz. Quando Cristo vier em glória, então, uma nova realidade será parida. Todas as coisas serão amplamente restauradas e renovadas.
A Igreja, imbuída do mesmo espírito de águia, deve anunciar tanto os juízos de Deus sobre a maldade humana, como também a renovação de todas as coisas, já iniciada pelo Espírito Santo, através da atuação da Igreja no mundo. Em Apocalipse 8:13 lemos: “Enquanto eu olhava, ouvi uma águia que, voando pelo meio do céu, dizia com grande voz: Ai, ai, ai dos que habitam sobre a terra! Por causa das outras vozes das trombetas dos três anjos que ainda vão tocar”. Compete à Igreja anunciar os juízos, mas enxergar e conclamar os homens a enxergarem para além dele. Ela deve anunciar as coisas que tem visto, as que são, e as que “depois destas hão de acontecer”(Ap.1:19). Em outras palavras, a igreja deve apresentar ao mundo uma síntese dos propósitos de Deus, abarcando o que já passou, o que se está sucedendo, e o que está por vir. Como uma águia, a igreja deve ter uma visão panorâmica da realidade. Por causa de seus potentes olhos, a águia não apenas enxerga à grande distância, mas ela também tem uma visão de 360º . O Espírito Santo nos capacita a ter uma visão de águia.
Somos levados a crer que tudo o que sucede hoje, e o que tem sucedido ao longo da história, tem um propósito a ser alcançado. Não há acidentes. No fim, quando todas as peças do quebra-cabeça houver sido encaixada, veremos a figura perfeita do mosaico. Tudo, finalmente, fará sentido.
A Igreja tem uma vocação profética. E portanto, tem o compromisso de ser voz de Deus no mundo. João diz que foram dadas à igreja, representada no texto por uma mulher, “as duas asas da grande águia”(Ap.12:14). Isso não apenas nos coloca “fora da vista da serpente”, mas também nos confere uma visão dos propósitos de Deus. Não podemos simplesmente monopolizar tal conhecimento, mas anunciá-lo ao mundo, para obediência das nações (Rm.16:26).
Ao sermos reconciliados com Deus, foi-nos confiado “o ministério da reconciliação (...) De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus através de nós rogasse. Rogamos-vos da parte de Cristo, que vos reconcilieis com Deus”(2 Co.5:18b,20). O mundo será renovado à medida que os homens forem reconciliados com o Criador.
Isaías 61
[1] Veja que paralelo incrível: Encarnação – Homem ; Morte – Touro ; Ressurreição – Águia ; Entronização – Leão.

O Homem

O terceiro ser vivente visto por João tinha o aspecto de Homem (Ap.4:7). Enquanto o leão aponta para a largura, a extensão do domínio de Cristo (Fazei discípulos de todas as nações), o touro aponta para o comprimento, o propósito eterno de Cristo (esterei convosco todos os dias), o ser com um rosto humano aponta para a profundidade do amor de Cristo, manifesto em Seus ensinamentos. Por isso Ele orientou: “Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado”(Mt.28:20).
O homem é o único ser dotado da imagem e semelhança divinas. Ser “imagem” é ser hábil para refletir, ser dotado de consciência reflexiva. Somente um ser que fosse a imagem de seu Criador, poderia aprender dEle. Todos os seres O obedecem, mas somente o ser humano e os anjos são capazes de compreender Suas ordens. Ele não apenas é capaz de ver o mundo, mas também de fazer uma interpretação daquilo que vê. Por isso, ele é, juntamente com os anjos, os únicos que podem oferecer a Deus um culto racional.Ele é um espelho no qual o Universo se reflete. No homem a criação alcança seu apogeu. Ele é a obra-prima do Criador.
Obs.:

A ordem em que os seres viventes são apresentados é regressiva. O Leão, o Touro, o Homem e a Águia apontam para fatos em ordem regressiva, em vez de progressiva. A águia aponta para a profecia, pois ela enxerga o que ainda está distante. O Homem aponta para a encarnação de Cristo. O Touro representa o Seu sacrifício. E o Leão representa o Seu domínio, o Seu Reino. Todos esses seres são espectros de uma mesma realidade: Cristo. Sua encarnação é representada pelo ser com rosto humano. E Seus ofícios de profeta (águia), sacerdote (touro) e rei (leão), são representados pelos outros seres. Como afirmou Bonhoeffer, não há realidade fora de Cristo.
Isso se dá pelo fato de que a visão parte da perspectiva da eternidade, e não do tempo cronológico. Do Kairós, as coisas são vistas partindo do fim para o começo, e não do começo para o fim. É a partir do propósito último que todas as coisas plenamente compreendidas. Ele é, antes de tudo, Leão, Rei dos Reis. Como disse Daniel: “O seu domínio é um domínio eterno, que não passará, e o seu reino o único que não será destruído”(Dn.7:14b). Antes que houvesse cosmos, Ele reina. Depois vem o Touro, que aponta tanto para o Seu sacrifício, quanto para o Seu sacerdócio. Pois no desempenho de Seu sacerdócio, Ele é tanto o que oferece (sacerdote), quanto o que é oferecido (vítima, sacrifício). Da perspectiva da eternidade, o sacrifício de Cristo é anterior à Sua encarnação. Por isso lemos que “o Cordeiro foi morto desde a fundação do mundo”(Ap.13:8b). Na sequência aparece o ser com rosto de Homem. Trata-se de uma clara alusão à Encarnação do Logos Divino. “O Verbo se fez carne, e habitou entre nós”(Jo.1:14a). E finalmente, aparece um ser cujo aspecto é de uma água voando. A águia é conhecida por sua poderosa visão. Ela é capaz de enxergar pequenos objetos de uma distância considerável. Esse ser aponta para o ofício profético de Cristo. Ele é Aquele que diz: “Eu anuncio o fim desde o princípio, desde a antigüidade as coisas que ainda não sucederam. Eu digo: O meu propósito subsistirá, e farei toda a minha vontade”(Is.46:10). Antes mesmo de Sua Encarnação, Cristo era o espírito que falava pela boca dos profetas. Sobre isso, Pedro diz em sua primeira epístola: “Desta salvação inquiriram e indagaram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que vos era destinada, indagando qual o tempo ou qual a ocasião que o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e sobre as glórias que os seguiriam”(1 Pe.1:10-11).
É importante ressaltar que todos os quatro seres são espectros de um único Ser: Jesus Cristo. Não são seres inteiramente distintos, mas que expressão as várias facetas de CRISTO. O Leão não é só Leão; ele também tem seu lado Touro. Assim como não podemos separar a natureza de Cristo em duas ou mais. Cristo é ao mesmo tempo, Deus e Homem, profeta, rei e sacerdote.
Ezequiel teve uma visão bem semelhante a de João. A diferença é que em sua visão, cada um dos seres viventes possuía quatro faces. Eles eram, ao mesmo tempo, homem, leão, boi e águia (Ez.1:10). Enquanto João teve sua visão após a Cruz, que é o prisma por onde os espectros se distingüem, Ezequiel teve sua visão séculos antes.
Isaías também viu tais seres, antes mesmo de Ezequiel (Is.6:2). Ele os chama de Serafins (seres que ardem), e os descreve como tendo seis asas cada um: “com duas cobriam os seus rostos, com duas cobriam os seus pés e com duas voavam”. Por que seus rostos estavam cobertos? Por não haver chegado ainda a hora de serem revelados. Seus pés eram cobertos, porque os caminhos de Deus são misteriosos. E com as únicas asas que restavam, os seres voavam, demonstrando que, apesar dos mistérios que envolviam os propósitos de Deus, eles já estavam em andamento.
As seis asas de cada ser vivente apontam também para a humanidade de Cristo, que escondia a Sua divindade. O número seis é o número do homem. Por trás do véu de Sua humanidade, estava o próprio Deus.
Em Apocalipse, os seres viventes continuam com seis asas cada um, porém, elas já não serviam para ocultar os rostos desses seres. O que antes era usado para ocultar, agora é usado para revelar.
Em Cristo, as partes Se fundem, e formam um Todo. Nele encontramos o Pleroma. Nele tudo se harmoniza.

Touro

As últimas palavras de Jesus registradas por Mateus foram: “E certamente estou convosco todos os dias, até à consumação do século” (28:20b). A oração de Paulo era que deveríamos conhecer a largura, mas também o comprimento do amor de Cristo. Ora, se a largura diz respeito ao espaço, à extensão do Seu domínio, o comprimento diz respeito ao tempo.
O ser vivente que representa essa dimensão do amor de Cristo é o que se parece com o Touro. E Por quê o Touro? Porque aponta para os sacrifícios que eram exigidos pela Lei, para que o pecado fosse expiado.

“Mas nesses sacrifícios cada ano se faz recordação de pecados, porque é impossível que sangue de touros e de bodes tire os pecados (...) Mas este, havendo oferecido para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus (...) porque com um só oferta aperfeiçoou para sempre os que estão sendo santificados (...)Então acrescenta: E jamais me lembrarei dos seus pecados e das suas iniqüidades. Ora, onde há remissão destes, não há mais oferta pelo pecado”.
(Hb.3-4,12,14,16b,17-18).

Os sacrifícios oferecidos na Antiga Aliança tinham um prazo de validade determinado: um ano. Após esse prazo, um novo sacrifício deveria ser feito, para cobrir o pecado. Mas agora, na Nova Aliança, Jesus realizou um sacrifício eterno, que em vez de cobrir, remove de vez o pecado, e nos religa e reconduz à eternidade.
Fomos feitos para a Eternidade! Em Eclesiastes lemos que Deus “pôs a eternidade no coração dos homens” (3:11). Por isso o homem anela por ela. Entretanto, ele se depara com a triste realidade da morte. Seu maior temor é a inexistência. Ele quer existir, e viver para sempre. Faço aqui uma diferenciação entre existir e viver. Todos, indistintamente existirão para sempre. Porém, somente os que convergirem em Cristo viverão eternamente. Existir não é viver. Só há vida em Cristo. O resto é morte. Como disse W. Gadsby, “aprouve ao Pai que toda plenitude habitasse em Cristo; portanto, não há outra coisa senão o vazio em qualquer outra parte”. Trata-se do vazio existencial de que falou Sartre. Do desespero humano de que falou Kierkegaard.
Nas palavras de Kierkegaard, “o homem é uma síntese de infinito e de finito, de temporal e de eterno, de liberdade e de necessidade”[1]
Embora sejamos destinados à eternidade, vivemos agora confinados ao tempo. E o pior é que o tempo parece opor-se a nós. Tornou-se nosso maior adversário. Em nossa infância, temos a impressão que o tempo passa devagar, de maneira que idade adulta nunca chega. Mas quando chegamos à maioridade, nos damos conta de que ele passa bem mais rápido que imaginamos.
Diante da aterrorizadora possibilidade da morte, buscamos garantias. Queremos ser lembrados depois de nossa partida. E acima de tudo, queremos adentrar a eternidade na certeza de que encontraremos lá algo melhor do que o que deixarmos aqui.
Ah se Adão não houvesse comido aquele fruto! Deus o avisara que no dia em que o comesse, ele morreria. No momento em que o primeiro casal abocanhou o fruto proibido por Deus, a morte entrou em cena. Sem que eles se apercebessem, seus corpos começaram a envelhecer. A entropia chegara à criação. A Serpente passou a alimentar-se do pó da terra. Tal verdade é endossada pela Biologia. O ser humano começa a morrer no momento em que nasce.
De que maneira isso poderia ser revertido? O apetite da serpente parece não ter fim. Como lemos em Provérbios: “O inferno e a perdição nunca se fartam” (27:20a). Pelo contrário, “a sepultura aumenta o seu apetite, e abre a sua boca desmesuradamente” (Is.5:14a).
Como reverter esse estado de coisas?
O Eterno e Ilimitado Deus deveria adentrar o tempo e o espaço, e através de Seu sacrifício vicário desfazer a obra destrutiva, desencadeada pelo Diabo. Eis novamente o mistério kenótico! Uma vez que ao homem não lhe era possível transcender (ir para além de si, de encontro à Divindade), Deus teria que condescender (descer espontaneamente, para ir de encontro à criação). Que grande mistério é esse! Se nem o céu dos céus é capaz de contê-Lo, como Ele poderia ser contido no tempo e no espaço? Esse, porém, era o preço que deveria ser pago, caso desejasse restaurar a Criação ao seu estado original.
Somente encerrado em um corpo de carne, Ele poderia experimentar a morte, para que por meio dela “aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; e livrasse a todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à escravidão” (Hb.2:14-15). Parafraseando Paulo, o “Rei Eterno, imortal, invisível”, “Aquele que tem, ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível”, “agora se manifestou pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus, o qual destruiu a morte, e trouxe à luz a vida e a imortalidade pelo evangelho” (1 Tm.1:17; 6:16; 2 Tm.1:10).
A criação fora infectada por um vírus letal: o pecado. Era como um famigerado câncer, que corroendo-a por inteiro. Não se trata apenas de um mal moral, mas de uma espécie de epidemia de repercussão cósmica.
Somente uma poderosa vacina livraria a Criação desse vírus. Paulo escreve: “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós” (2 Co.5:21). Como toda vacina, Cristo teria que entrar no corpo infectado, para expurgar o vírus. E foi o que, de fato, Ele fez. O corpo infectado a que me refiro é o Universo. O Deus transcedente, isto é, que vive para além do Universo, Se fez imanente, penetrando a Criação, para restaurar sua saúde original.
Por Sua morte, Cristo restaurou a saúde do Universo. O pecado foi banido! Embora os sintomas pareçam persistir, o vírus já foi eliminado. Paulo nos informa que “Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne” (Rm.8:3b).
Diferente dos sacrifícios exigidos na Antiga Aliança, que tinham que ser renovados ano após ano, o sacrifício de Cristo foi definitivo. Não se trata de um remédio em doses homeopáticas, mas de uma única dose. “Doutra forma”, declara o escritor sagrado, “necessário lhe fora padecer muitas vezes desde a fundação do mundo. Mas agora, na consumação dos séculos, uma vez por todas se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo” (Hb.9:26).
A vacina foi preparada de antemão, antes mesmo da criação do cosmos. Por isso se diz que o Cordeiro foi morto desde antes da fundação do mundo. Mas a aplicação dela se deu na plenitude dos tempos, quando Cristo Se humanizou.
Uma vez livres do poder do pecado, somos reintroduzidos no projeto original de Deus: a eternidade. Uma vez vacinados, não há como ser infectados novamente. Nas palavras de Paulo, simplesmente estamos “mortos para o pecado” (Rm.6:11). Ele não exerce mais o mesmo poder que antes tinha sobre nós. “Mas agora, libertados do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação,e por fim a vida eterna” (Rm.6:22). Esse “por fim” não deve ser entendido como sendo algo que só teremos no fim de todas as coisas. Creio que a vida eterna é pra ser usufruída agora. Esse “por fim” significa “por objetivo”. O objetivo de Deus ao nos libertar do poder do pecado, é conceder-nos a vida eterna.
O amor de Deus exige que o objeto amado se torne eterno. É porque o “seu amor dura para sempre” (Ed.3:11), que “tudo o que Deus faz durará eternamente” (Ec.3:14). O único empecilho a isso era o pecado. Porém esse foi definitivamente vencido na Cruz.

Qual o comprimento do Seu amor?

Paulo diz que se desejamos ser tomados pelo Pleroma Divino, devemos compreender o comprimento do Seu amor. Jeremias, o profeta chorão, registrou uma das mais belas declarações de amor já feitas por Deus: “Com amor eterno te amei; com benignidade te atraí” (Je.31:3). Somente um amor eterno seria capaz de produzir um sacrifício eterno. A Cruz é eterna, e jamais perderá sua validade. E se ela é eterna, logo, o que ela produziu também deve ser eterno. Observe o que diz a Escritura:

“Mas Cristo, tendo vindo como sumo sacerdote dos bens já realizados, por meio de um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação, e não por meio de sangue de bodes e bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, havendo obtido uma eterna redenção” (Hb.9:11-12).

Se a redenção realizada na Cruz é eterna, logo, somos eternamente redimidos. Não há como anular a obra da Cruz.
Uma vez redimidos, eternamente redimidos.
A Cruz de Cristo desencadeou um processo que não pode ser revertido. Ela anulou o pecado em sua raiz, para que, paulatinamente, suas conseqüências sejam desfeitas.
A Bíblia nos garante que Jesus, “com uma só oferta aperfeiçoou para sempre os que estão sendo santificados” (Hb.10:14). A oferta do Seu corpo na Cruz nos aperfeiçoou para sempre, embora estejamos em franco processo de santificação. Se o bacilo da tuberculose foi eliminado, aos poucos as secreções e as tosses desaparecerão. O machado de Deus atingiu em cheio a raiz do problema. A árvore do pecado já foi desarraigada, e aos poucos vamos assistindo à sua folhagem murchar, secar e cair.
Ora, se Ele é o Autor, também deve ser o Consumador de nossa fé. Se foi Ele quem começou a boa obra, somente Ele pode terminá-la (Fp.1:6).
Quando compreendemos o comprimento do Seu amor, não vacilamos, nem duvidamos de Seu poder em nos “guardar de tropeçar” (Jd.24). Ele jamais vai desistir de nós. Ele concluirá o que começou em nós. Não há como Ele voltar atrás numa decisão tomada antes mesmo de nos criar. Os planos de Deus não podem ser alterados. Não são nossas imperfeições que vão conseguir comprometer o plano perfeito de Deus. O que está em jogo não é a perseverança do homem, mas a perseverança divina. Só um Deus perseverante pode exigir que os homens o sejam. Também não se trata do direito do homem de fazer suas próprias escolhas, e sim do inviolável direito de Deus em escolher.
A redenção do homem é o ponta-pé inicial para a redenção de todo o Cosmos.
A redenção torna tanto o homem quanto o Cosmos imortais.
Se o Universo está sujeito à corrupção, é por causa do pecado do homem. Quando este é redimido, aquele é restaurado. A criação está prenha de uma nova criação, que não mais estará sob a égide da morte e da corrupção. O novo céu e a nova terra não aparecerem do nada, como os originais, mas aparecem a partir dos que já existem. Uma criação que não seja mais sujeita à corrupção, só pode ser uma criação incorruptível.
O equilíbrio há muito perdido, desde a Queda, será reavido. Não haverá mais animais em extinção. O homem deixará de ser esse predador insaciável, para ocupar o lugar de vice-regente e guardião da criação.
Não. O universo não caminha para um big-crunch, como acreditam alguns cientistas. Ele caminha para a estabilidade.
Todo o Universo está impregnado da Glória de Deus. O sacrifício de Cristo não salva apenas o homem, mas redime toda a Criação.
Paulo diz que “Aquele que desceu é o mesmo que subiu acima de todos os céus, para encher todas as coisas”(Ef.4:10). Ele é Aquele “que enche tudo em todos”(Ef.1:23b). E no capítulo final da História, duas coisas se sucederão: 1 – Todo joelho se dobrará e confessará o Senhorio de Cristo (Fp.2:10-11); 2 – Deus será Tudo em Todos (1 Co.15:28).
Finalmente, será concluída “a redenção da propriedade de Deus, em louvor da sua glória”(Ef.1:14b).
Tudo será redimido! Esse será o tempo da “restauração de todas as coisas”de que falaram os profetas (At.3:21). Cada estrela, cada planeta, cada galáxia, cada espécie... Nada escapará do amor de Deus, nem mesmo os animais. “Naquele dia”, garante o Senhor, “farei por eles aliança com os animais do campo, com as aves do céu e com os répteis da terra. Da terra tirarei o arco, a espada e a guerra, e os farei deitar em segurança”(Os.2:18). Tal profecia encontra eco em Isaías: “Morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará; o bezerro, e o filho de leão e o animal cevado viverão juntos, e um menino pequeno os guiará. A vaca e a ursa pastarão juntas, seus filhos juntos se deitarão, e o leão comerá palha como o boi. Brincará a criança de peito sobre a toca da áspide, e o já desmamado meterá a mão na cova do basilisco. Não se fará mal nem dano algum em todo o monte da minha santidade (o planeta Terra), pois a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar”(Is.11:6-9).
O sangue de Cristo, além de prover a reconciliação entre Deus e o homem, também reconcilia as espécies entre si. O homem será plenamente reconciliado com todos os seres vivos. Não haverá mais hostilidade entre eles, para todo o sempre. E tudo isso, garantido pelo sacrifício realizado na Cruz.
Toda a criação aguarda, com ardente expectativa, a realização plena dessa promessa.
Não! O homem não será a única espécie viva a habitar a eternidade. Os quatro seres viventes do Apocalipse estão lá pra nos testificar disso.

[1] Sören Kierkegaard – O desespero humano, p.19.

A Sinfonia da Criação

A mais recente teoria que busca explicar o funcionamento do Universo é conhecida como Teoria das Supercordas, e foi desenvolvida em 1984 pelos físicos John Schwarz e David Gross. Segundo ela, tudo o que existe no Universo é constituído pela manifestação de um único elemento, que seria a fonte pela qual todos os elementos básicos do Universo, e todas as forças naturais seriam produzidos.Tudo o que há é constituído de vibrações emitidas por cordas vibrantes!
Assim como em um violão, cujas cordas pressionadas pelos dedos do violonista produz sons e notas diferentes, o Universo seria constituído de cordas que de acordo com diferentes vibrações, produziriam a matéria em seus vários estados. A Teoria das Supercordas está fundamentada nesse fenômeno. Seus modos de vibração em diversas freqüências dão origem as partículas elementares que nós identificamos como elétrons, quarks, fótons, etc..O universo é, portanto, constituído de cordas vibrantes e as superposições harmônicas de suas vibrações criam tudo o que existe.
Esta Teoria esboça grande beleza, pois nos permite visualizar um Universo unificado, onde tudo funciona harmoniosamente. Tudo está interligado.
A Criação é semelhante a uma grandiosa orquestra onde os diferentes instrumentos e seus sons são criados pelas vibrações emitidas por uma única fonte, as cordas vibrantes. A sinfonia executada por esta orquestra é composta e regida pelo Rei dos Reis. Ele é o Compositor e o Maestro regente da grande Sinfonia Universal. Por isso, João, ao relatar a misteriosa voz que ouvira do céu, declarou: “A voz que ouvi era como de harpistas, que tocavam as suas harpas” (Ap.14:2b). E no capítulo 15, verso 2, o apóstolo amado fala das “harpas de Deus”.
João também vê harpas nas mãos dos vinte e quatro anciãos que se assentam ao redor do Trono de Deus. E não só harpas, mas também taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos (Ap.5:8). O que significaria tudo isso?
Os vinte e quatro anciãos que rodeiam o Trono representam a humanidade redimida, de todas as eras. 24 é o resultado de 12x2, e aponta para a totalidade dos eleitos de ambas as alianças, a Antiga e a Nova. 12 representa o número da redenção, é a multiplicação de 3 por 4. O Três pode representar o tempo (passado, presente e futuro), e o quatro pode representar o espaço (os pontos cardiais: norte, sul, leste e oeste). Logo, os vinte e quatro anciãos representam a amplitude da redenção promovida por Cristo. Ela abarca tudo quanto há dentro do tempo e do espaço.[1]

3.4.1 – A Matéria ao redor do Trono

Ao que parece, doze é um número Bíblico da predileção de Deus. São doze meses o tempo que a terra demora para dar uma volta em torno do Sol. O dia tem doze horas, a noite tem doze horas. O elemento carbono, que é o alicerce básico da vida na matéria, contém no seu núcleo 6 prótons e 6 neutrons, ou seja, 12 partículas que lhe conferem a massa. Além disso, os "tijolos" básicos que formam toda a matéria do universo, são formados por um cubo básico cujos lados (arestas) contêm 6 PÓSITRONS + 6 ELÉTRONS, ou seja, DOZE PARTÍCULAS. Todo o Universo é contruído com esses tijolos de doze partículas. A Redenção, representada pelo número 12, abarca a realidade como um Todo.

O ramo da física que estuda os constituintes básicos da matéria é a Física de Partículas Elementares. Neste campo existe uma teoria chamada de Modelo Padrão. Segundo essa teoria a matéria tem dois tipos de constituintes, os quarks e os léptons. Os primeiros nunca são observados isoladamente mas se agregam para formar os hádrons. Os hádrons mais conhecidos são o próton e o nêutron, formados por três quarks e principais constituintes dos núcleos atômicos. Os quarks mais abundantes na natureza são o up e o down. O próton é formado por dois quarks up e um quark down enquanto que o nêutron se constitui de um up e dois do tipo down. O lépton mais conhecido é o elétron, responsável pela ligação entre os átomos e, consequentemente, pela formação de moléculas. Há um outro lépton, chamado neutrino que não possui carga elétrica e é muito difícil de ser observado.
Essas quatro partículas constituem todos os corpos que nos rodeiam.
Repare que interessante: a Física e a Química estão representados ao redor do Trono de Deus. As quatro forças que regem o Universo, e as doze partículas que formam toda a matéria do Universo. Mas não são 24 o número dos anciãos? Sim. Mas o que dizer da chamada “antimatéria”? Considerando as partículas mais elementares que se conhecem atualmente, podemos dizer que para cada uma delas, existe uma antipartícula, com massa igual porém com carga eléctrica e momento magnético inverso. Elas dão origem à antimatéria. Há quem acredite que a antimatéria seja o que chamamos de mundo espiritual; o lado de lá, o avesso de tudo quanto vemos, o universo invisível. Seja ou não, o fato é que a Bíblia diz que em Cristo, foram criadas todas as coisas, quer visíveis ou invisíveis, matéria e anti-matéria. Tudo foi criado por Ele, e para Ele. Toda a criação está ao redor do Trono. Não há qualquer elemento químico, ou força física, que não esteja inteiramente submetida ao senhorio de Cristo Jesus.
O professor G. I. Naan, da Academia de Ciências da Estônia, sustenta convictamente, que nosso Universo está em equivalência com outro Universo paralelo, invisível de polaridade diferente. Neste "Anti-universo" estariam invertidas todas as polaridades, de modo que uma partícula de carga positiva no nosso teria, naquele, uma carga negativa. Cientistas como ele, que sustentam a hipótese de um Universo paralelo,constituído por antimatéria, imaginam que sua estrutura teria a mesma equivalência ao Cosmos que conhecemos, de maneira análoga à equivalência entre um objeto e sua imagem refletida no espelho.
A redenção da Criação é obra de Deus, e não do homem. Porém, a Igreja é chamada a ser cooperadora com Ele. Em suas mãos estão as harpas de Deus.
É através da oração que Igreja se torna cúmplice de Deus em Seu governo cósmico. Somos convidados a participar do Seu domínio. Daniel profetiza que “o reino e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo. O seu reino será um reino eterno, e todos os domínios o servirão e lhe obedecerão” (Dn.7:27). Nós temos as harpas de Deus em nossas mãos! O Cosmo inteiro aguarda pela manifestação dos filhos de Deus (Rm.8). Tudo no Cosmo está organizado a fim de promover o bem daqueles que amam a Deus, e que são chamados segundo o Seu maravilhoso propósito. Cada átomo, cada evento, tudo conspira em nosso favor. Ou como disse J.A.Motyer, “O mundo inteiro está ordenado e organizado de forma que tudo vá ao encontro das necessidades do povo de Deus”.[2]
Ao orarmos em ação de graças constante, estamos tocando nossas harpas, e conduzindo o cosmos à adoração ao seu Criador.
Já que falamos dos vinte e quatro anciãos que se assentam “ao redor do trono”, não podemos deixar escapar a oportunidade de falar sobre os quatro seres viventes que estão “diante do trono”. O que está por trás do trono diz respeito ao mundo invisível, espiritual, o que está perante o trono diz respeito ao universo visível, e à sua ordem.
Já falamos em outra oportunidade que esses quatro seres viventes representam a extensão do domínio de Cristo sobre a Criação visível. O número quatro tem esse valor simbólico. Os quatro ventos, os quatro cantos da terra, os quatro evangelhos, os quatro lados da Nova Jerusalém, as dimensões do amor de Cristo (largura, comprimento, altura e profundidade) são alguns exemplos da aplicação desse número na Bíblia. E quanto às descobertas científicas, será que esse número revela alguma coisa?

3.4.2. DNA: A Vida ao redor do Trono

Há pouco falamos das quatro forças que, segundo a Física, regem o Universo, a saber, a gravidade, o eletromagnetismo, as interações nucleares fortes e as interações nucleares fracas. Não fossem tais forças, o Universo não existiria, ou pelo menos, não teria a configuração que tem. Vamos deixar o campo da Física, e vamos para o campo da Biologia. Já sabemos pela Física como a matéria se organiza através dessas quatro forças. Agora, não podemos nos esquecer que os seres vistos diante do Trono de Deus eram “seres vivos”. E como a “vida” se organiza?
Como sabemos, os seres vivos são compostos de células, e é isso que os difere das coisas inanimadas. Se abríssemos o núcleo de uma célula, lá encontraríamos uma seqüência de códigos secretos que a ciência denominou DNA.
Os primeiros estudos sobre o DNA foram realizados no final do século 19, mas a forma desta estrutura indispensável à vida de todos os seres vivos só foi apresentada no dia 28 de fevereiro de 1953 pelos então jovens cientistas James Watson e Francis Crick. A descoberta do DNA foi saudada por um dos seus descobridores, Watson, com a frase – “Descobrimos o Segredo da Vida!" Em 1962, Watson, juntamente com os seus colegas Francis Crick e Wilkins, recebeu o Premio Nobel pela descoberta da estrutura molecular do ácido "hereditário", o DNA. A molécula deste ácido forma uma hélice dupla que lembra o Caduceu da medicina. Sem embargo, a descoberta do DNA é uma das descobertas mais importantes do século 20.
A descoberta do DNA deve-se muito a Johann Mendel, pioneiro no estudo das leis da herança genética.
O DNA é o responsável pelas características físicas de todos os seres vivos. Desde de um inseto até o maior mamífero, todos são compostos dos mesmos elementos básicos. O que os difere uns dos outros é o código secreto existente em cada célula. Como pode uma bactéria ser formada dos mesmos elementos que compõe o homem? O que os distingue é a forma como esses elementos se arrumam para formar o código, ou melhor, o DNA.
Para facilitar a compreensão, tomemos, por exemplo, algumas letras do nosso alfabeto. Com as letras A, M, O e R, podemos formar a palavra AMOR. Mas se invertermos a ordem das letras, poderemos formar a palavra ROMA. Ora, trata-se de palavras com sentidos completamente diferentes, mas com as mesmas letras. A mesma idéia pode se aplicar ao DNA. Embora todos os seres vivos possuam os mesmos elementos deste código, estes são arrumados em seqüências diferentes.
O DNA é formado pelos nucleotídeos adenina, citosina, timina e guanina, representados por suas iniciais A, C, T e G. Por incrível que pareça, apenas quatro (4) elementos compõem o código da vida!
Creio que esses quatro elementos estão representados diante do Trono pelos quatro seres vivos que ali se apresentam.
Outra coisa que difere os seres vivos é o número de elementos que possuem. O ser humano, coroa da criação, é o que apresenta o maior e mais complexo número de elementos entre todos os demais seres vivos.
A dupla hélice que forma o DNA está dividida em vários segmentos. Estes grupos de elementos são chamados genes. Os elementos de cada gene trabalham fabricando proteínas, que são os componentes que fazem o nosso corpo por dentro e por fora como os tijolos fazem uma casa. Assim, temos genes responsáveis pela produção de anticorpos -- as proteínas que defendem nosso organismo de agentes invasores, como bactérias, vírus e fungos; genes responsáveis pela produção de melanina -- a proteína que influencia na cor da nossa pele; genes responsáveis pela produção de insulina -- proteína que controla os níveis de açúcar no sangue; entre milhares de outros.
Os genes são também responsáveis por outras características mais evidentes, tais como nossos traços físicos. O código que trazemos no núcleo de todas as nossas células é resultado da combinação de genes que recebemos do nosso pai e da nossa mãe. Viemos de uma única célula, a célula-ovo, que se dividiu inúmeras vezes até que estivéssemos prontos para nascer. E a célula-ovo, por sua vez, resulta do encontro da célula reprodutora masculina (espermatozóide), que continha genes do seu pai, com a célula reprodutora feminina (óvulo), que continha genes da sua mãe.
Desta forma, nosso DNA é a combinação de genes do nosso pai com genes da nossa mãe. E como o DNA contém as características físicas dos indivíduos, herdamos as características físicas dos seres que nos deram origem.
É importante ressaltar que não somos exatamente meio a meio pai e mãe. Somos uma combinação de códigos de um e de outro e isso faz com que possamos desenvolver características próprias. E como os seres resultam de combinações de DNA, não existe ser vivo com DNA igual ao de outro. Só há uma situação em que dois ou mais seres podem ser considerados cópias naturais: é o caso dos gêmeos idênticos. Isso acontece quando a célula-ovo, que daria origem a um indivíduo, se divide formando dois ou mais embriões. Como esses irmãos tiveram origem na mesma célula, eles terão o mesmo DNA, o que os torna fisicamente idênticos.

O que é o genoma humanoPodemos dizer que genoma é o código genético do ser humano, ou seja, o conjunto dos genes humanos. No material genético podemos encontrar todas as informações para o desenvolvimento e funcionamento do organismo do ser humano. Este código genético está presente em cada uma das nossas células. O genoma humano apresenta-se por 23 pares de cromossomos que contem interiormente os genes. Todas as informações são codificadas pelo DNA, o ácido desoxirribonucléico. Este ácido, que tem um formato de dupla hélice, (veja figura do DNA acima) é formado por quatro bases que se juntam aos pares: adenina com timina e citosina com guanima.
A utilidade do genoma humanoAtravés do mapeamento genético do genoma humano será possível, muito em breve, descobrir a causa de muitas doenças. Muitos remédios e vacinas poderão ser desenvolvidos a partir das informações obtidas pelas pesquisas genéticas. Descobrindo a causa de várias doenças, o ser humano poderá adotar medidas de prevenção.
Através de pesquisas genéticas e exames, já é possível detectar se um ser humano tem predisposição para sofrer de certas doenças ou se um embrião herdou doenças graves. Em breve, quando forem descobertas as funções de todos os genes humanos, outros benefícios virão.
O Projeto GenomaO geneticista Craig Venture, dono da empresa de pesquisas genética Ventura, completou em 2000 o sequenciamento genético de todos os genes humanos. Foram identificadas todas as bases (moléculas químicas que formam o DNA ).Paralelamente o Projeto Genoma, que teve a participação de várias instituições de pesquisa do mundo todo, também concluiu o mapeamento genético.


Quero terminar este capítulo em que falamos da extensão de Seu domínio, com um dos mais belos salmos, conhecido como “Louvor Cósmico”:

Louvai ao Senhor. Louvai ao Senhor desde os céus, louvai-o nas alturas.
Louvai-o, todos os seus anjos; louvai-o, todos os seus exércitos celestiais.
Louvai-o, sol e lua; louvai-o, todas as estrelas reluzentes.
Louvai-o, céus dos céus, e as águas que estão sobre os céus.
Louvem o nome do Senhor, pois mandou ele, e logo foram criados.
Ele os estabeleceu para sempre, e lhes deu uma lei que não passará.
Louvai ao Senhor desde a terra, vós, monstros marinhos,
E todas as profundezas dos oceanos, relâmpagos e saraiva,
Neve e nuvens, ventos tempestuosos que EXECUTAM A SUA VONTADE;
Montes e todos os outeiros, árvores frutíferas e todos os cedros;
Feras e todos os gados, répteis e aves voadoras; reis da terra e todos os povos,
Príncipes e todos os juízes da terra; jovens e donzelas, velhos e crianças,
Louvai o nome do Senhor, pois só o seu nome é exaltado; a sua glória
Está sobre a terra e o céu.
Ele também exaltou o poder do seu povo, o louvor de todos os seus santos,
Dos filhos de Israel, um povo que lhe é chegado. Louvai ao Senhor.
Salmo 148.


[1] É interessante frisar também que recentemente, alguns cientistas especularam que o Universo, além de finito, apresenta uma forma geométrica de 12 lados, similar a um dodecaedro. Se isso for comprovado, podemos afirmar que os vinte e quatro anciãos representariam os 12 lados interiores desse universo, e os 12 lados exteriores, isto é, o universo visível e invisível. Convém lembrar que o Livro que contém o propósito de Deus de restaurar todas as coisas é escrito por dentro e por fora, e isto indica a realidade visível e invisível (Ap.5:1). A vontade de Deus deve ser cumprida “assim na terra como no céu”.
[2] J.A Motyer, p.113.

Leão: A extensão do Seu Domínio

“Dominará de mar a mar, e desde o Rio até as extremidades da terra (...) Todos os reis se prostrarão perante ele, e todas as nações o servirão. Pois ele livrará ao necessitado que clamar, como também ao aflito e ao que não tem quem o ajude” (Salmo 72:8,11-12).


Foi na qualidade de Leão da Tribo de Judá, que Jesus bradou, como um leão que ruge após ser despertado: “É-me dado todo o poder no céu e na terra (Mt.28:18).
Como um Leão que demarca seu território, o Senhor proclamou a extensão do Seu domínio. Céu e terra formam Sua jurisdição. Nada escapa ao Seu domínio. Nem mesmo o inferno, conforme conferimos em Apocalipse 1:18.
A primeira vez em que o Messias prometido a Judá é comparado a um leão é quando Jacó abençoa os seus filhos antes de sua morte. Ao abençoar a Judá, tribo de onde viria o Rei dos reis, ele diz:

“Judá é um leãozinho. Subiste da presa, filho meu. Encurva-se, e deita-se como leão, e como leoa; quem o despertará? O cetro não se arredará de Judá, nem o bastão de autoridade de entre seus pés...”
Gênesis 498:9-10a

Na Cruz, Ele “encurvou-se”, na sepultura Ele “deitou-se”, mas na ressurreição Ele “despertou-se” para vindicar o Seu domínio.
A extensão do Seu domínio também revela a extensão do Seu amor. Por isso Paulo ora para que os crentes de todas as eras compreendessem a largura deste amor.
O braço do rio que banhava o Éden que aponta para a extensão do domínio do Cristo de Deus é o Eufrates, que significa “irromper”, “surgir de repente”, “entrar com ímpeto”.
Quando Deus entrou em aliança com Abraão e sua descendência, Ele prometeu:

“À tua descendência dei esta terra, desde o rio do Egito até o grande rio Eufrates”.
Gênesis 15:18b.

O rio Eufrates determinava os limites da possessão dos filhos de Abraão. Cristo, porém, como o descendente de Abraão, recebeu o domínio “de Mar a mar, e desde o Rio até as extremidades da terra” (Sl.72:8). O Rio Eufrates não representa mais o fim de um domínio, e sim o ponto de partida. As nações Lhe foram dadas como herança, e os fins da terra por Sua possessão (Sl.2:8). Por isso, Jesus agora, depois de vencer a morte, pode ordenar aos Seus discípulos:

“Portanto, ide e fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome
do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”.
S.Mateus 28:19.

As boas-novas, que até então estavam limitadas aos judeus, deveriam ser espalhadas por toda a orbe terrestre, para testemunho de todas as nações.
A bem da verdade, os discípulos não compreenderam amplamente a extensão daquela comissão. Por serem todos judeus, não lhes era fácil dispor dos preconceitos que nutriam para os gentios.
Mas Jesus não deixou margem para dúvidas.
Lucas registra uma outra parte do último discurso de Jesus:

“Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas,
tanto em Jerusalém com em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra”.
Atos 1:8.

Pregar em Jerusalém? Tudo bem. Mesmo estando eles acostumados a centros menores, como Cafarnaum, Betânia e outros. Eles devem ter pensado: Que privilégio para nós, pescadores, simples galileus, pregar no centro religioso dos judeus. Judéia? Por que não? Afinal era a província na qual eles haviam crescido. Mas quando Jesus pronunciou Samaria, eles certamente levaram um choque. Ah, essa não! Aquela gente nojenta não merece ouvir as boas-novas do reino. Talvez fosse melhor pular Samaria, e partir direto para os confins da terra.
Entretanto, Jesus sabia que para que alcançassem os confins da terra, teriam que vencer seus fantasmas interiores, seus preconceitos.
Samaria fazia parte do projeto de Deus.
Durante algum tempo, os discípulos insistiram em ficar só em Jerusalém. Era como se quisessem adiar o projeto de Deus. Foi necessário que Deus permitisse “uma grande perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém, e todos foram dispersos pelas terras da Judéia e da Samaria, exceto os apóstolos” (At.8:1b). Nem mesmo uma perseguição foi capaz de remover os apóstolos de Jerusalém. Já que eles não iam, Deus dispôs-Se de crentes comuns, que “dispersos iam por toda a parte anunciando a palavra” (v.4). Gente como Filipe, um diácono, que descendo “à cidade de Samaria, pregava-lhes a Cristo” (v.5).
E sabe qual foi o resultado? “As multidões unanimemente prestavam atenção ao que Ffilipe dizia, porque ouviam e viam os sinais que ele fazia (...) Havia grande alegria naquela cidade” (v.6,8). Que vergonha pra Pedro, Tiago e os demais apóstolos que ficaram entocados em Jerusalém! Deus teve que usar Filipe pra vê se os despertava. E pelo jeito, a estratégia de Deus funcionou. Pois Lucas relata que “ouvindo os apóstolos que estavam em Jerusalém que Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João (...) Tendo eles testificado e falado a palavra do Senhor, voltaram para Jerusalém, e em muitas aldeias dos samaritanos anunciaram o evangelho” (At.8:14,25).
O amor de Cristo que enchera o coração de Filipe finalmente vencera o preconceito.
Hoje, há muitas igrejas que estão se especializando em determinados seguimentos da sociedade. Grupos especializados em atingir as chamadas tribos urbanas, tudo bem. Mas igreja inteiras que se acham especializadas e chamadas por Deus para ministrar com exclusividade a um determinado grupo? Isso não parece concordar com o que Paulo chama de “largura” do amor de Cristo.
Há igrejas para classe média, igrejas para empresários, igrejas para esportistas, e até igrejas étnicas. Esse fenômeno tem recebido maior força nos Estados Unidos, principalmente com a ascensão do movimento conhecido como Frendly Church (Igreja Amigável).
Há igrejas anglo, onde não há lugar para representantes da comunidade hispânica. Há igrejas coreanas, chinesas, nipônicas, e, pasmem, até brasileiras.
Mas Jesus não disse que a Sua casa seria chamada casa de oração para todos os povos? Quem nos deu o direito de limitar a extensão do amor de Cristo.
Como podemos conceber uma igreja de negros em pleno século XXI?
Se há igrejas étnicas, é sinal de que há pessoas que não se sentem bem, e até se sentem discriminadas em certas igrejas regulares.
Conheço um empresário que estava profundamente decepcionado com sua igreja, porque lhe obrigava a participar de uma célula composta apenas de empresários como ele. Ele preferia se misturar com o povão. Ele contou-nos que nas reuniões da célula, havia um tipo de competição entre as pessoas. Todos queriam contar vantagens, e exibir como troféus suas últimas conquistas profissionais e financeiras. Sob o pretexto de testemunho, usava-se humilhar aqueles que não tinham o que contar. Não se podia distinguir quando alguém queria glorificar a Deus, ou gabar-se.
A igreja deve está aberta a todos os povos, sem demonstrar predileção por ninguém.
Tiago nos admoesta severamente: “Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado” (Tg.2:9a).
E Paulo arremata: “Desta forma não há judeu nem grego, não há servo nem livre, não há macho nem fêmea, pois todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl.3:28). Portanto, não lugar pra qualquer tipo de preconceito, nem racial, nem social, tampouco sexual.
Não há uma etnia que seja superior à outra. Ninguém é preferido ou preterido por ser judeu, negro, anglo-saxão ou hispânico.
Quando estreitamos nossas ações, por conta de algum preconceito, ou apenas por preferência, é como se estivéssemos represando as águas do Rio de Deus, impedindo que deságüem sobre aqueles por quem Ele morreu. Há questões que são secundárias, como por exemplo, as de cunho cultural.
Para sermos veículos do Amor de Deus, e levarmos o Evangelho à toda criatura, temos que nos despir do orgulho cultural. Questões acerca de vestimentas, dietas alimentares, música, não têm a menor importância, em comparação ao amor de Deus. Parafraseando o grande apóstolo dos gentios, se por causa da comida, ou de qualquer outra questão cultural, se contrista o teu irmão, “já não andas conforme o amor. Não faças perecer por causa da tua comida aquele por quem Cristo morreu” (Rm.14:15).
Muitos missionários americanos foram expulsos dos países pra onde foram enviados, por tentarem impor o estilo americano de vida como padrão de comportamento a ser adotado pelos povos que eram evangelizados.
Não podemos ter uma visão estreita do Reino de Deus.
Não precisamos exportar nossa cultura, nem temos a obrigação de importar a cultura alheia.
É sobre a igreja que Isaías profetiza:

“As tuas portas estarão abertas de contínuo, nem de dia nem de noite se fecharão,
para que tragam a ti as riquezas das nações e, conduzidos com elas, os seus reis”.
Isaías 60:11.

Estou convencido de que as riquezas das nações nada mais são do que suas expressões culturais. Há lugar para todos os povos e culturas dentro dos portões da Cidade de Deus. O fato de a Nova Jerusalém ter o mesmo número de portas abertas para cada uma das quatro extremidades da terra, demonstra que Deus não tem predileção por qualquer que seja a etnia, ou a cultura. Todos são bem-vindos à Cidade de Deus, que é a Igreja de Cristo.
Um dia veremos cumprida a visão registrada em Apocalipse, “de uma grande multidão, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, que estavam em pé diante do trono e perante o Cordeiro” (Ap.7:9).
E que tal se alargarmos um pouco mais a nossa visão acerca da extensão do Seu amor e do Seu Domínio?

3.1. O Amor de Deus se estende à Criação como um todo

Enganam-se os que imaginam que o amor de Deus está limitado ao ser humano. A obra da redenção realizada na Cruz deve abarca todo o universo criado, e não apenas os homens.
Na mesma visão em que testemunha o Leão da Tribo de Judá recebendo das mãos do Pai o livro que contém os propósitos de Deus para a criação, João também assiste a um fenomenal espetáculo. Tão logo o Leão da Tribo de Judá tomou o livro, “os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo todos eles uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos. E cantavam um novo cântico, dizendo:

“Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos, porque foste morto, e com o
teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, e língua, e povo e nação.
Para o nosso Deus os fizeste reino e sacerdotes, e eles reinarão sobre a terra”.
Apocalipse 5:9-10.

De repente, milhões de anjos unem suas vozes à voz dos quatro seres viventes e dos vinte e quatro anciãos, “proclamando com grande voz: Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvo” (v.12). Mas não acaba aí! Dá pra alargar mais o foco?
“Então ouvi a toda criatura que está no céu, e na terra, e debaixo da terra, e no mar, e a todas as coisas que neles há, dizerem: Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o poder para todo o sempre” (v.13). Aleluia! Que coral! Que sinfonia maravilhosa! Todos os que estão sob o Seu Domínio devem adorá-Lo.
Nem mesmo as criaturas irracionais escapam do Seu amor. Elas também o reconhecem, e O adoram. Mamíferos, ovíparos, répteis, anfíbios, peixes, pássaros, são conclamados a louvá-Lo:“tudo o que tem fôlego louve ao Senhor” (Sl.150:6).
Temos tido uma visão muito estreita do Reino de Deus.
Não consigo imaginar uma eternidade onde a única espécie viva será a humana.
Eu prefiro fazer coro com Davi, declarando:

“Ó Senhor, quão variadas são as tuas obras! Todas as coisas fizeste com sabedoria; cheia está a terra das tuas riquezas. Há o mar, vasto e espaçoso, onde se movem seres inumeráveis, animais pequenos e grandes (...) Todos esperam de ti que lhes dê o seu sustento em tempo oportuno. Quando lhes dás o alimento, eles o recolhem; quando abres a tua mão, enchem-se de bens. Quando escondes o teu rosto, ficam perturbados; quando lhes tiras a respiração, morrem, e voltam para o pó. Quando envias o teu Espírito, são criados, e renovas a face da terra”.
Salmo 104:24-25,27-30.

É muita pretensão nossa achar que o plano de Deus está limitado à nossa espécie. É bem verdade que Jesus disse que o ser humano vale mais do que as andorinhas. Mas isso não quer dizer que elas não valem coisa alguma. Pois se assim fosse, o Pai não as alimentaria.
Ademais, as Escrituras afirmam que os homens são “em si mesmos como os animais. Porque o que acontece aos filhos dos homens, isso mesmo também acontece aos animais; a mesma coisa lhes acontece. Como morre um, assim morre o outro. Todos têm o mesmo fôlego, e nenhuma vantagem têm os homens sobre os animais. Tudo é vaidade. Todos vão para o mesmo lugar; todos são pó, e todos ao pó tornarão. Quem sabe se o espírito dos filhos dos homens vai para cima, e se o espírito dos animais desce para a terra?” (Ec.3:18b-21).
À luz deste texto, quem se atreve a dizer que os animais não têm alma? Não me perguntem se há um céu especial para os cachorros, que eu não saberei responder. Entretanto, não posso descartar a idéia de que os animais também fazem parte do plano redentor de Deus. Eles estão entre as criaturas que gemem aguardando por serem libertadas do cativeiro da corrupção (Rm.8:21).
A sinfonia universal de adoração ao Cordeiro não estaria completa sem que nela se ouvisse a voz de todas as criaturas de Deus, até mesmo as que já foram extintas.
A extensão de Seu domínio abrange os sistemas planetários, as nebulosas, os cometas, os asteróides, as galáxias, os buracos negros, daquilo que aparenta ser infinito, ao mais ínfimo, o mundo microscópico.
Há mais de 10 mil cometas e asteróides, com diâmetro igual ou superior a meio quilômetro cruzando a órbita da Terra. Em 1993, um deles, o Swuift-Tuttle, com mais de dez quilômetros de diâmetro, passou perigosamente próximo. Se ele houvesse colidido com nosso planeta, seria o fim de todas as espécies vivas. Só o governo providencial de Cristo sobre o Cosmos pode explicar o fato de ficarmos ilesos diante de tais ameaças do espaço sideral.
Em 1908, um meteorito atingiu a região de Tunguska, na Sibéria, devastando uma área de centenas de quilômetros quadrados. Ainda bem que isso aconteceu em uma região despovoada. Se ocorresse em uma cidade como o Rio de Janeiro ou São Paulo, o número de mortos seria contado aos milhões. Não é uma questão de sorte, e sim de providência.
Há evidências científicas suficientes que apontam para a existência de uma Mente criadora e organizadora por trás do Universo. Para que a vida exista hoje, um conjunto de condições esteve presente desde seu início. Robert Jastrow, astrônomo e ateu declarado, confessa que o Universo foi muito bem pré-adaptado para o provável aparecimento da humanidade.[1] Pois se houvesse a menor variação na hora do Big-bang, alterando as condições, mesmo que pouco, nenhuma vida existiria. Terá sido isso mero acidente? Quais as probabilidades estatísticas disso? Praticamente zero. Vejamos ainda algumas condições presentes em nosso Universo para o aparecimento e manutenção da vida:

1. O oxigênio compõe 21% da atmosfera. Se a porcentagem fosse 25%, a atmosfera começaria a pegar fogo, se fosse 15%, os seres humanos morreriam asfixiados.
2. Se a força da gravidade fosse alterada em parte em 1040 (que significa 10 seguido de 40 zeros), o Sol não existiria, e a Lua se lançaria contra a Terra ou se perderia no espaço. Mesmo um pequeno aumento na força da gravidade resultaria em todas as estrelas serem bem maiores que o nosso Sol, fazendo com que o Sol queimasse de forma rápida e inconstante demais para sustentar a vida.
3. Se o Universo estivesse se expandindo a velocidade de um milionésimo menor que está agora, a temperatura da Terra seria de 10 000o C.
4. A distância média entre as estrelas na nossa galáxia (que contém 100 bilhões de estrelas) é 48 trilhões de quilômetros. Se essa distância fosse alterada apenas ligeiramente, as órbitas ficariam errantes, e haveria variações extremas de temperatura na Terra.
5. Qualquer uma das leis da física pode ser descrita como uma função da velocidade da luz (agora definida: 482 366 064 km por segundo). Mesmo uma variação pequena na velocidade da luz alteraria as outras constantes e tornaria impossível a vida na Terra.
6. Se Júpiter não estivesse na sua órbita atual, seríamos bombardeados com material espacial. O campo gravitacional de Júpiter age como um aspirador de pó cósmico, atraindo asteróides e cometas que, de outra forma, atingiriam a Terra. Não só o grandalhão Júpiter, mas todos os demais planetas de nosso sistema provêem um necessário escudo para proteger a vida na Terra.
7. Se a espessura da crosta da Terra fosse maior, oxigênio demais seria transferido para a crosta, o que tornaria a vida impossível. Se fosse mais fina, a atividade vulcânica e tectônica tornaria a vida insustentável.
8. Se a rotação da Terra durasse mais que 24 horas, as diferenças de temperatura entre a noite e o dia seriam grandes demais. Se o período de rotação fosse mais curto, as velocidades dos ventos atmosféricos seriam altas demais.
9. As diferenças de temperaturas da superfície seriam grandes demais se a inclinação axial da Terra fosse levemente alterada.
10. Se a taxa de descarga elétrica (relâmpagos) fosse maior, haveria muita destruição pelo fogo; se fosse menor, haveria muito pouco nitrogênio fixado no solo.
11. Se houvesse mais atividade sísmica (terremotos) muitas vidas seriam perdidas. Se houvesse menos, nutrientes no fundo dos oceanos e nos deltas dos rios não voltaria para os continentes por meio da elevação tectônica. Até terremotos são necessários para sustentar a vida como a conhecemos.[2]

Cientistas têm concluído que é necessário que o Universo tenha o tamanho e a complexidade enormes que a astronomia moderna revelou, para que a Terra seja uma habitação possível para os seres humanos.
Albert Eistein não hesitou em declarar: “A harmonia da lei natural (...) revela uma inteligência de tamanha superioridade que, comparada a ela, todo pensamento sistemático e toda ação dos seres humanos é uma reflexão absolutamente insignificante” (Einsten, p.40).
E quanto ao mundo microscópico?
O corpo humano é composto de células, trilhões delas, que surgiram a partir da fusão de duas células, o espermatozóide e o óvulo. E de que são feitas as células? De moléculas. Todos os seres, animados ou inanimados, são feitos de moléculas. A diferença é que nos seres vivos, as moléculas produzem células, enquanto nos inanimados não. Entretanto, todos são feitos de moléculas. E de que são feitas as moléculas? De átomos. Estes são os tijolos da Criação. Tudo o que Deus criou no Universo, desde as estrelas até a mais singela flor, é feito desse “tijolo” chamado átomo.
E por incrível que pareça, só há 92 tipos de átomos em toda a natureza. E como pode haver tamanha variação na obra de Deus? Como exclamou o salmista: “Ó Senhor, quão variadas são as tuas obras!” (Sl.104:24a). Tudo depende das combinações que houver entre esses 92 tipos de átomos. São como letras de um alfabeto. Em nosso alfabeto existem apenas 26 letras, mas com elas pode-se escrever qualquer coisa: desde as mais aterrorizantes manchetes de jornais, até as boas-novas do Evangelho.
Quem está por trás de tudo isso? DEUS. De acordo com Paulo, “todas as coisas foram criadas por Ele, e para Ele”. E mais: Ele próprio as sustenta pela palavra do Seu Poder (Hb.1:3). Ele é o início (Alfa), e o fim objetivo (Ômega), e ainda, o meio, pois é mediante Ele que “tudo existe” (Hb.2:10). Ele as domina por direito exclusivo, pelo fato de tê-las criado. Como diz Apocalipse: “Digno és, Senhor nosso e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, pois tu criaste todas as coisas, e por tua vontade existem e foram criadas” (Ap.4:11). Os neutrinos, os elétrons, os pósitrons, os “quarks”, os prótons e nêutrons, e o infinitamente pequeno pertencem ao domínio do Cristo de Deus.
Devo concordar com Sócrates, que há vinte e cinco século afirmou: “Aquilo que é constituído para alcançar um objetivo pressupõe uma inteligência que o produziu. Observando o homem, por exemplo, nota-se que todos os seus órgãos estão constituídos de tal modo que não podem ser explicáveis como obra do acaso, mas sim como obra de uma inteligência que idealizou expressamente a sua constituição”.
Quando levantamos as mãos para o alto, numa manhã ensolarada de verão, e sentimos o movimento do vento soprando em nossa pele, não nos damos conta de que algo maravilhoso está acontecendo. Ao passar por nossa pele, o vento deixa moléculas de todos os elementos químicos necessários para criar vida. Enquanto aquece nosso rosto, o sol irradia toda a energia geradora da vida. Em termos da Física, não passamos de um conjunto de moléculas e energia. Mas há algo que faz a diferença: um princípio invisível nos mantém coesos. Foi esse princípio invisível que nos criou a partir de um turbilhão de átomos espalhados pelo Universo.
A cada inspiração, inalamos centenas de milhões de moléculas gasosas. E em menos de um segundo, as que sustentam a vida, principalmente o hidrogênio e o oxigênio, entram em nossas células para criar enzimas e proteínas. Mas como elas sabem que têm de fazer isso? O fato é que não sabem. Não há diferença entre o oxigênio em nosso sangue, e o encontrado no tanque de um mergulhador; ou entre o açúcar em nosso cérebro e o que temos no açucareiro de casa. A diferença está naquele que determina o que o oxigênio deve fazer em nosso sangue, e o que o açúcar deve produzir em nosso cérebro. Esse princípio invisível é ninguém menos que aquEle que tem o domínio de todas as coisas. É Ele quem mantém vivas as células do nosso corpo.
Nossas células são quimicamente as mesmas tanto no instante que precede a nossa morte, quanto no instante em que morremos.
Somos informados pela Física que tudo que parece sólido, é na verdade 99,999% de espaço vazio. Dentro deste vácuo, pacotes de energia começam e deixam de existir milhões de vezes por segundo. Nós e tudo o que está à nossa volta não passam de uma nuvem de probabilidades, atualizando a si mesmos no chamado campo quântico, o que parece concorda com a afirmação bíblica de que não passamos de “uma brisa que passa”(Sl.78:39). Nada do que sentimos é digno de inteira confiança: nenhum odor, som, gosto, toque ou visão existe realmente. Nossos cincos sentidos nos emitem informações que muitas vezes não passam de meras ilusões. Nosso cérebro desaparece e reaparece a cada segundo e, no entanto, esse ato mágico, ocorre rápido demais para que possamos detectá-lo. Por isso somos convidados a viver pela Fé, e não por aquilo que vemos. Nosso homem exterior está constantemente se corrompendo, mas nosso interior é renovado dia a dia pelo Espírito daquEle que a tudo vivifica.

3.2. O Domínio de Cristo sobre a Ciência

A Ciência não escapa ao domínio de Cristo. A Física, rainha das ciências modernas, as ciências sociais, biológicas, e qualquer outro campo do saber estão sob o Cetro do Rei dos Reis.
As grandes descobertas científicas são por Ele permitidas e tuteladas. Tanto as que são fruto de ardorosos esforços e pesquisas, quanto as que surgem de insights, conhecido como serendipidade. Sua graça comum é quem capacita os homens a entenderem as leis que regem a criação, das quais Ele mesmo é o Legislador.
Se não fosse assim, como se explicaria a descoberta dos átomos pelos antigos filósofos gregos cerca de 400 a.C. sem qualquer instrumento que possibilitasse sua comprovação? Seriam apenas intuições filosóficas, uma vez que não se podia comprovar sua veracidade?
Foram necessários mais de vinte séculos para que em 1808 o cientista inglês John Dalton formulasse uma teoria que desse caráter científico à idéia do átomo como partícula constituinte universal da matéria.
Neils Bhor procurava desesperadamente pelo modelo do átomo e não conseguia realizá-lo. Ao relaxar a ponto de cochilar, sonhou que estava sentado sobre o sol e que planetas giravam ao seu redor; encontrara, finalmente, o que tanto buscava. Friedrich August Kekulé von Stradonitz (1829 – 1896) químico orgânico alemão, estava sonhando após um longo período de trabalho, quando descobriu a estrutura cíclica do benzeno. Descartes, o grande filósofo, além de ouvir vozes de aplausos, sonhou com um anjo, que também apoiava as suas idéias. Antonin Artaud declarou: "Eu abandono a mim mesmo à febre dos sonhos em busca de novas leis".
Em 1839, Charles Goodyear derrubou sem querer um pedaço de borracha misturado com enxofre dentro de um forno quente. Ao examinar o material, se deu conta de que ele ganhara algumas propriedades presentes no couro – força, elasticidade e resistência contra solventes. Descobria-se assim o processo de vulcanização para a borracha. A invenção tornou possível o desenvolvimento de diversas indústrias, incluindo a automobilística. Daí o nome Goodyear hoje ser sinônimo de pneu.
Certamente, o caso mais notório de serendipidade é mesmo o de Isaac Newton, pai da Física Moderna. Conta-se que Newton lia um livro sentado tranqüilamente no jardim de sua casa de campo, quando uma maçã caiu sobre a sua cabeça. De repente, Newton teve um insight: Seria a força que fez a maçã cair a mesma que segura a lua gravitando em torno da terra? A pergunta viria a ser a base da sua teoria da gravitação universal, conhecida como Lei da Gravidade.
Bem fariam os cientistas de hoje, se a exemplo de Isaac Newton, reconhecessem em Deus, a fonte de sua inspiração. Depois de ter alcançado a notoriedade, Newton mantinha sua humildade, a ponto de declarar: “Não sei o que pareço aos olhos do mundo, mas, para mim, fui apenas um garoto brincando na praia, entretido em descobrir de vez em quando um pedregulho mais liso ou uma concha mais bonita que o normal”.
É claro que isso não dispensa o preparo do cientista. O químico francês Louis Pasteur, que era um cristão devoto, chamou a atenção para o fato de que “no campo da observação, o acaso só favorece a mente preparada”.
Cristo é o Senhor até da Meteorologia. Que o digam os discípulos, que diante de uma inusitada bonança, exclamaram: Quem é este que até os ventos e o mar obedecem?
Uma visão pleromática não pode ignorar qualquer alcance que tenha o domínio de Cristo. Nada, absolutamente nada, fica fora do escopo de Sua autoridade.
Devo concordar com Joseph Cook ao afirmar que “Há um Deus na Ciência, um Deus na História e um Deus na consciência, e esses três são um”.[3] Não há razões suficientes que justifiquem que a Fé e as Ciências se ataquem mutuamente, alienadas em suas próprias trincheiras. Li em algum lugar que “o papel da ciência é catalogar a criação, e devolvê-la em ordem a Deus”. Nosso papel é dar nome aos bichos, porém, reconhecendo que eles foram criados por Deus. Alguns termos que hoje estão em voga eram completamente desconhecidos nos tempos bíblicos. Embora jamais devemos adulterar a mensagem das Escrituras, podemos apresentá-la com termos com os quais o homem moderno esteja familiarizado. Assim como João apropriou-se do termo “logos”, amplamente usado no mundo helenizado de sua época, para transmitir a mensagem de Cristo, não há nada de errado em usarmos termos científicos ou filosóficos de nossa época para apresentarmos a incontestável verdade do Evangelho. Paulo também usava termos usados pelos gnósticos de sua época, embora não endossasse sua doutrina, pelo contrário, a combatia implacavelmente. Em outras palavras, como disse Len Jones, “a tarefa do cristão é tornar o Senhor Jesus visível, inteligível e desejável”.
Estou convencido de que as grandes descobertas científicas são inspiradas por Deus. Ainda que muitos cientistas se digam agnósticos, ou mesmo ateus, eles estão servindo a Deus através de suas pesquisas e descobertas. E como isso pode acontecer? Pode alguém servir a Deus sem conhecê-Lo? Óbvio que sim. Se não fosse assim, Ciro, rei da Pérsia, não teria sido chamado por Deus de “meu servo”. E diz mais: “Ciro é meu pastor, e cumprirá tudo o que me apraz” (Is.44:28). E ainda: “Assim diz o Senhor ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita (...) eu te chamo pelo teu nome (...) ainda que não me conheces” (45:1,4). E o que dizer de Nabucodonozor, tirano babilônico, a quem Deus chama de “meu servo” (Jer.25:9)? Como podemos explicar isso? Provérbios 21:1 explica: “Como ribeiros de águas é o coração do rei na mão do Senhor; a tudo o que quer o inclina”. Se o Deus do céu domina sobre os reis da Terra, por que não dominaria sobre os cientistas? Não tenho dúvida de que boa parte das invenções que presenciamos no século passado foi inspirada pelo Criador. Louvado seja Deus pelas vacinas, pela telefonia que encurta distâncias, pela TV, pela Internet, e por todos os avanços tecnológicos dos últimos séculos.
A ciência é mais um instrumento da gloriosa orquestra regida pelo Criador. Entretanto, a ciência tem seus limites. Stephen Hawking, um dos maiores gênios da atualidade, reconhece isso: “Mesmo que a ciência possa resolver o problema de como o universo começou, não pode responder à questão: “Por que o universo se dá ao trabalho de existir?”. E acrescenta: “Eu não sei a resposta para essa pergunta” (Hawking, p.99). A resposta jamais será encontrada pela Ciência, pois pertence ao domínio da Fé. Só a Fé revela o propósito último de todas as coisas.
Robert Jastrow, sem querer dar o braço a torcer, declarou: “Que existem o que eu ou qualquer pessoa chamaria de forças sobrenaturais em ação agora é, creio eu, fato cientificamente comprovado”.[4] E ele mesmo conclui em outra obra: “Para o cientista que viveu pela fé no poder da razão, esta história termina como um pesadelo. Ele escalou a montanha da ignorância; está prestes a conquistar o pico mais alto; e, quando chega à última pedra, é cumprimentado por um bando de teólogos que estavam sentados ali há séculos”.[5]
A ciência pode revelar os fatos, mas jamais os propósitos por trás desses fatos. Ela pode identificar as leis, mas só a fé poderá revelar o Legislador. Como Adão, ela pode catalogar os bichos, mas vai continuar sentindo-se só, incompleta e impotente, até que aceite a provisão de Deus pela fé.

3.2.1. Amor ou Domínio?

Paulo fala sobre a extensão do amor de Deus, ao referir-se à sua largura. Entretanto, temos focalizado a extensão do Seu domínio. Será que estamos cometendo algum equívoco teológico ou exegético ao focalizarmos aqui o Seu domínio, em vez de Seu amor? Absolutamente. Não há como dissociar uma coisa de outra.
Ao exercer soberania sobre Suas criaturas, Deus não o faz por mero capricho, e sim para que possa garantir-lhe os cuidados necessários. Subscrevo as palavras de Leonardo Boff quando afirma que Deus é um Ser de cuidado. [6]
Stephen Hawking descreve em uma de suas obras como os valores dos diversos números fundamentais nas leis da natureza “parecem ter sido ajustados com precisão para possibilitar o desenvolvimento da vida” e como “a configuração inicial do universo” parece ter sido “escolhida cuidadosamente”.[7] De fato, Deus é um ser de cuidado. Ao exercer domínio sobre toda a Criação, Ele o faz no propósito de cuidar pelo bem-estar de Suas criaturas.
Na ótica humana, dominar tem outro sentido. Os homens querem dominar a natureza a seu bel-prazer, sem aceitar a responsabilidade de cuidar desse patrimônio divino.
Para melhor entendermos a questão de domínio dentro da ótica divina, recorramos a algumas passagens bíblicas que falam sobre isso.
Por exemplo: Em Gênesis lemos que Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança, e lhe ordenou que dominasse sobre todos os demais seres vivos (1:26-29). Animais selvagens e domésticos, plantas de todos os tipos, aves e peixes, foram confiados aos cuidados do homem. Ao empossá-lo no jardim do Éden, que era uma espécie de sede da criação, Deus ordenou que ele o lavrasse e guardasse. Lavrar significa desenvolver, promover o progresso, enquanto que guardar significa assegurar o bem-estar. Eis a natureza do domínio que Deus conferiu ao homem.
Deus desejava que o homem tivesse um relacionamento amigável com o resto da criação. Por isso, coube-lhe nomear a todo ser vivente (2:19). O homem era o zelador da criação. O mordomo a quem Deus havia confiado o cuidado de Seu patrimônio.
Na ótica cristã, dominar é servir. Foi Jesus quem admoestou a Seus discípulos: “Bem-sabeis que os governadores dos gentios os dominam e que os grandes exercem autoridade sobre eles. Não será assim entre vós. Pelo contrário, todo aquele que, entre vós, quiser tornar-se grande, seja vosso servo, e quem dentre vós quiser ser o primeiro, seja vosso escravo – tal com o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mt.20:25-28).
Se dominar é servir, cuidar, desenvolver, assegurar o bem-estar, logo, dominar é amar. Veja, não estou falando de dominar como fazem os gentios, a seu bel-prazer. Estou falando de dominar no sentido de exercer autoridade a fim de preservar, e promover o desenvolvimento. Assim como fazem os pais para com os filhos. Eles os dominam enquanto crianças, porque os amam.
Outro exemplo interessante é encontrado na primeira epístola de Pedro, onde ele exorta àqueles que exerciam autoridade na igreja: “Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente, não por torpe ganância, mas de boa vontade; não como dominadores dos que vos foram confiados, mas servindo de exemplo ao rebanho” (5:2-3).
O modelo que os líderes cristãos deve seguir é o de Cristo, não o dos dominadores deste mundo.
E ainda há um último exemplo que queremos pinçar das páginas sagradas. Paulo diz que as mulheres devem submeter-se aos seus maridos, como ao Senhor. “Pois o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo” (Ef.5:22-23). Posso entender o porquê das feministas esbravejarem quando ouvem a citação desse texto. Nossa sociedade não pode compreender o significado e a profundidade que se encerram por trás do princípio nele esboçado. Para que Cristo seja o Salvador, faz-se mister que também seja o Senhor. Ele não pode salvar aquele de quem Ele não é Senhor. Assim também, o marido, na qualidade de provedor da família, deve também exercer autoridade sobre ela, a começar pelo seu cônjuge, passando pelos filhos.
Como Deus poderia cuidar de algo sobre o quê não exercesse autoridade?
E Paulo vai mais longe: “Vós, maridos, amai as vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela” (v.25). Repare a relação entre autoridade e amor. Quem ama, cuida. Quem ama, se entrega pelo objeto de seu amor.
Assim também Deus, não apenas domina sobre todas as coisas, como também o faz para que possa cuidar dessas mesmas coisas, ainda que tenha de entregar-se por elas, como de fato o fez.
Portanto, quando falamos da extensão de Seu domínio, estamos também nos referindo ao alcance do Seu amor.
Ele possui amplos direitos de exercer domínio sobre Sua criação; vejamos alguns deles:

1º - Ele é o Seu autor – Lemos em Apocalipse 4:11b: “...Tu criaste todas as coisas, e por tua vontade existem e foram criadas”. O universo não é fruto de um acidente. Seria uma improbabilidade estatística afirmar o contrário. Seria mais fácil a explosão de uma gráfica resultar na composição de uma enciclopédia, do que o universo ser resultado do acaso. João reafirma isso, ao declarar que “todas as coisas foram feitas por meio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (Jo.1:3). Repare nisso: Não há absolutamente nada que tenha surgido por si mesmo. Não há seres autocriados. A Física procura descobrir as leis que regem as forças do universo, mas não admite que essas leis, por si só, denunciam a existência de um Legislador. Ora, se Ele é o autor, o Criador de tudo quanto há, nada mais justo do que Ele mesmo governar todas as coisas. É por ser a origem de tudo, que Ele Se apresenta como o Alfa.
2º - Ele é o Seu sustentador – Ele não abandonou Sua obra ao acaso, como afirmam os deístas[8], que comparam Deus a um relojoeiro, que deixou o relógio trabalhar por si mesmo, depois de lhe ter dado corda. O Deus da Bíblia participa de toda a dinâmica da Criação. Ele cuida pessoalmente de cada detalhe (Sl.104). Nem mesmo um pardal lhe passa desapercebido (Mt.6:26). Nas palavras do santo apóstolo, “todas as coisas subsistem por ele” (Cl.1:17). Este é o Deus das Escrituras “mediante quem tudo existe” (Hb.2:10). “Se Deus quisesse, e retirasse o seu espírito e fôlego, toda a carne juntamente expiraria, e o homem voltaria ao pó”, concluiu Eliú (Jó 34:14-15). Só há uma explicação para o fato de não termos sido extintos da face da terra: “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, pois as suas misericórdias não têm fim. Novas são a cada manhã” (Lm.3:22-23a).
3º - Ele é o Objetivo de toda a Criação – Ele não apenas é o Alfa, a origem, nem apenas o Mu, o meio pelo qual ela é sustentada, mas Ele também é o seu Alvo Supremo. Toda a Criação está vocacionada a encontrar em Deus o seu significado último. Paulo resume isso dizendo que todas as coisas são dEle, por Ele e para Ele (Rm.11:36). O universo foi criado para o Seu aprazimento. Portanto, devem existir em função d’Ele, e não para si mesmo. Aqui jaz o grande problema do universo. Enquanto as coisas orbitassem em torno de seu Criador, elas teriam a garantia da eternidade. Entretanto, algo surgiu que quebrou a harmonia entre a Criação e o seu Criador. Em vez de convergir, algo preferiu divergir, e nessa divergência surgiu a morte, a corrupção. Uma vez afastada do Criador, a criatura, quem quer que fosse, estaria destinada à morte, já que estaria desligada da fonte de sua vida. O advento do pecado foi a quebra da harmonia no universo de Deus. Alguém atreveu-se a reivindicar autonomia da fonte da Vida, por achar que deveria e poderia viver para si mesmo. O universo que até então estava fluindo harmonicamente, agora sofre uma abrupta queda. A Queda não diz respeito apenas ao homem, mas a totalidade do Cosmos. Afinal de contas, que é o homem? Ele é a síntese do universo. Através dele, a obra da criação alcançou o seu apogeu, e o que antes era apenas coisas inanimadas, e que através dos primeiros seres vivos (plantas e animais) passou a ter vida, agora, através do homem, passava a ter consciência. O homem é a conclusão da obra divina. Um passo em falso deste mesmo homem poria tudo a perder. A queda do homem pôs toda a natureza debaixo da corrupção. Houve um desvio nada acidental. E agora? Como reaver a harmonia original? Como reaver a propriedade de Deus, agora alienada pelo pecado? A Herança do Senhor foi profanada! Uma vez que Deus sabia de antemão tudo quanto haveria de acontecer, Ele já havia feito provisão para que houvesse uma correção na rota da Criação, colocando-a de volta em sua rota original, cujo destino é o seu Criador. Trata-se do plano da Redenção, arquitetado antes da fundação do mundo. Mediante esse infalível plano, estaria assegurada a “redenção da propriedade de Deus” (Ef.1:14). Agora, através de Seu sacrifício na Cruz, todas as coisas voltam a orbitar em torno dEle. Logo, Ele tem o direito de dominar tais coisas, tanto por ser o seu Criador, quanto por ser o seu Sustentador e Redentor.

3.3. Um Anti-Universo

O pecado desencadeou o surgimento de uma aberração cósmica, uma anomalia no Universo criado por Deus, que a Bíblia chama de Inferno, ou de Império da Morte.
Embora a Bíblia afirme que foi o próprio Deus quem o criou, ousamos afirmar que o inferno não constava da criação original. Ele seria a antítese do Éden. A Criação, agora prejudicada com a entrada do pecado, passou a estar sujeita à corrupção, ou numa linguagem mais científica, à entropia. O “senhor” do inferno, Satanás, passa a ser o príncipe deste mundo. O homem, por assim dizer, sublocou o seu domínio ao querubim rebelde. O mundo de Deus tornou-se o cenário onde Satanás construiria o seu império funesto. Satanás, como anti-deus, desejava estabelecer aqui uma espécie de anti-mundo. Mas em nenhum momento Deus perdeu o controle da situação. Poderíamos afirmar que Deus tinha uma carta na manga. O problema já estava resolvido mesmo antes de vir à tona. Uma vez que foi o homem quem entregou as rédeas a Satanás, competia ao homem tomá-la de volta. Mas como isso se daria, se o homem estava inteiramente comprometido com o Diabo? Como um ser que já nascesse súdito do império das trevas poderia insurgir-se contra ele? Somente Deus poderia fazê-Lo. Mas para isso, de duas uma: ou Ele driblava o princípio de autoridade que Ele mesmo estabelecera, tomando as rédeas do diabo diretamente; ou Ele Se fazia homem, para que, na qualidade de ser humano, porém sem pecado, pudesse reaver a Sua propriedade, sem quebrar o princípio de autoridade delegada. É claro que Deus só poderia optar pela segunda hipótese. Se bem que Deus não pensa dessa maneira. Ele não faz suposições antes de tomar qualquer decisão. Ele sempre soube o que fazer. Deus Se fez homem, assumindo em Si mesmo a totalidade da natureza humana, e sem que houvesse cometido qualquer delito, pagou pelos nossos pecados na Cruz. Ao morrer, Ele desceu ao Inferno, e ali, cara a cara com o Diabo, tomou-lhe as chaves da morte e do inferno. Pedro, em seu discurso em Pentecoste, asseverou que Deus ressuscitou a Jesus “soltas as ânsias da morte, porque não era possível que fosse retido por ela” (At.2:24). E por que não era possível à morte mantê-lo em suas garras? Porque Ele desfez a obra do Diabo (1 Jo.3:8). E que obra foi essa? A da rebelião que desencadeou na corrupção de todo o Universo criado. Por Ele ter sido obediente ao Pai até a morte, Ele pôde adentrar o terreno do inimigo, sem que este Lhe pudesse prender. E em Hebreus somos informados que Cristo, pela Sua morte aniquilou “o que tinha o império da morte, isto é, o diabo” (Hb.2:14).
A Cruz possibilitou a convergência de todas as coisas em torno de Cristo, o Deus-Homem, e não apenas isso, ela desferiu o golpe fatal no causador de toda a divergência: o diabo. Agora, o Cristo de Deus pode apresentar-Se como aquEle que tem “as chaves da morte e do inferno” (Ap.1:18). Nem mesmo o inferno está fora de Sua jurisdição. Na verdade, nunca esteve. Entretanto, Ele agora o domina como Deus e Homem. Um dia, porém, a morte e o inferno serão lançados no lago de fogo, onde, juntamente com o diabo, seus anjos, e todos quanto o seguirem, serão atormentados para todo o sempre (Ap.20:10, 14; 21:8).
Esse “lago de fogo” é também chamado de “segunda morte”, que seria uma morte definitiva. Quem ali for lançado será fadado a “viver” separado da Vida de Deus por toda a eternidade. Imagine um universo onde as coisas estejam entregues à sua própria sorte. Imagine um tipo de existência onde a melhor expressão encontrada por Jesus para classificá-lo seja “ranger de dentes”. Cabe-nos aqui uma ressalva: esta realidade foi preparada “para o diabo e seus anjos” (Mt.25:41). O homem entrou nisso de gaiato, quando deu ouvidos à serpente no Éden. “Apartai-vos de mim, malditos”, será a sentença ouvida por aqueles que preferirem viver para si mesmos, em vez de viver para aquEle que os criou. Uma vida apartada de Deus não é vida, é morte. O “lado de fogo” é uma espécie de universo sem Deus. É o universo imaginado pelos ateus e materialistas. Um universo sem leis, uma vez que o Legislador foi recusado. Um universo sem ordem, sem harmonia, sem provisão, sem propósito, onde “viver” será o pior de todos os tédios.
Ao enviar os ímpios para o Lago de Fogo, Deus apenas estará dando-lhes o destino que eles gostariam de ter. Mas isso lhes custará muito caro: a eternidade sem Deus. Esse é o preço da autonomia espiritual.
O ímpio diz: Não há Deus. Ele prefere um universo sem Deus. Então, ele o terá. E será tarde demais para arrepender-se. Até porque, o Espírito Santo não estará lá para conduzi-los ao arrependimento. Assim como “Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si”, e “os abandonou às paixões infames” “os entregou a um sentimento pervertido, para fazerem coisas inconvenientes” (Rm.1:24,26,28), Deus entregará os homens às suas próprias cobiças, permitindo que colham exatamente o que semearam, a corrupção. “De Deus não se zomba”, esbraveja Paulo, “tudo o que o homem semear, isso também ceifará. O que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna” (Gl.6:7-8). Se o diabo se põe como anti-deus, e o inferno, como império das trevas, é um anti-reino de Deus, ou anti-mundo, o Lago de Fogo será uma espécie de anti-universo. Um cosmo inteiro feito sob medida para quem despreza o Senhor. Como afirmou C.S.Lewis: “Há apenas dois tipos de pessoas no final das contas: aquelas que dizem a Deus: “Seja feita a tua vontade”, e aquelas a quem Deus diz, no final: “Seja feita a tua vontade”.[9]
Não creio que o “lago de fogo” será parte do Universo recriado em Cristo. Acredito que ele constituirá uma espécie de universo paralelo, governado pelo caos total.
O Universo de Deus é construído a partir da ordem. No universo de Deus os elétrons devem orbitar em torno do núcleo do átomo; os planetas têm sua órbita fixa ao redor do Sol. E todas as coisas têm sua órbita em Cristo. É assim que tudo deve funcionar.
Mas os ímpios são como “estrelas errantes, para as quais tem sido eternamente reservada a escuridão das trevas” (Jd.13). Por quê “estrelas errantes”? Porque se negam a orbitar em torno de Cristo.
Se perguntarmos a um Físico de que o Universo é construído, ele dirá que tudo é formado por quatro forças básicas: a gravidade, o eletromagnetismo, as interações nucleares fortes e as interações nucleares fracas. Estas forças se originam em Deus, e constroem toda a realidade do Universo criado. A gravidade é o que nos prende ao solo, mantém os planetas em suas órbitas. As interações nucleares fortes são responsáveis por manter o núcleo atômico unido e estável. Sem ela o núcleo explodiria, e toda a matéria se desfaria. As interações fracas são as forças responsáveis pela transmutação dos elementos e pelo descaimento radioativo. O eletromagnetismo é o que nós experimentamos como luz, calor e eletricidade. Portanto, tudo o que existe, planetas, estrelas, galáxias, flores, pássaros, e o próprio ser humano, são criados e mantidos através destas forças.
É difícil imaginar um universo em que tais forças estivessem ausentes. Seria um caos absoluto. Seria, por assim dizer, um inferno. Pois é isso que espera aqueles que não submeterem-se ao senhorio de Cristo.
[1] Esse argumento é chamado de Princípio Antrópico, e tem sido usado por muitos cientistas cristãos para comprovar o fato de que o Universo não é produto de um acidente, e sim criação de Deus, que o preparou para receber o homem.
[2] Norman Geisler - Enciclopédia Apologética, pg.45.
[3] Joseph Cook. p.111
[4] Robert Jastrow – God and the astronomers, p.15, 18.
[5] Ibid – A scientist caught between two faiths, p.105-6
[6] Leonardo Boff – Saber Cuidar – Ética do humano – Compaixão pela terra
[7] Norman Geisler - Enciclopédia Apologética, pg.47.
[8] Deístas – Crêem que Deus criou todas as coisas, estabelecendo leis para que existissem por si só, e as abandonou à sua própria sorte.
[9] C.S.Lewis - Cartas do Inferno, p.69.

As Dimensões do Amor de Deus

“Oro para que, estando arraigados e fundados em amor, possais perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de todo o Pleroma de Deus.”
Ef.3:17b-19.

Somos cristãos. Não são poucos os que professam isso. Entretanto, pouquíssimos sabem as implicações de tal confissão.
O termo “cristão”, embora pareça estar no superlativo, originalmente significava exatamente o contrário. Se pudéssemos contextualizar, poderíamos dizer que somos “cristinhos”, ou “pequenos cristos”, pois esse é o sentido original da palavra “cristão”, cunhada de maneira jocosa pela primeira em Antioquia.
Somos o Corpo de Cristo, e Sua extensão na Terra. E de acordo com Paulo, a igreja na qualidade de corpo, é a “plenitude daquele que enche tudo em todos” (Ef.1:23).
E para que exerçamos cabalmente o papel de Corpo místico de Cristo, é necessário que estejamos tomados de toda a Plenitude de Deus. Por isso Paulo exorta: “Enchei-vos do Espírito” (Ef.5:18b).
Embora todos os que fomos batizados n’Ele, somos habitados pelo Seu Espírito, somos ordenados a buscar estar constantemente cheios do Pleroma Divino. Não significa que receberemos mais d’Ele, pois Ele não nos dá do Seu Espírito em porções. Antes, significa que a plenitude do nosso ser será tomada pela plenitude do Seu Espírito. Em vez de dar lugar ao diabo, somos inteiramente repletos do Espírito de Deus. Já não resta espaço em nós para a amargura, a ira, a cólera, a gritaria, a blasfêmia e a malícia (Ef.4:27,31).
Todos os cômodos do nosso ser devem estar devidamente preenchidos pelo Pleroma Divino.
Entretanto, para que isso se efetue em nossa existência, precisamos compreender perfeitamente as dimensões do amor de Deus que “está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm.5:5b).
Esse amor deve ser compreendido em toda sua largura, comprimento, altura e profundidade. Somente se compreendermos as dimensões do Seu amor, poderemos entender a extensão dos Seus propósitos. O amor é o que une o Pleroma Divino ao pleroma criado, promovendo o enlace entre o Criador e a Criação.
A Igreja de Cristo é o Jardim de Deus, banhado pelo Rio do Seu Amor. A exemplo do que acontecia no Éden, esse rio é dividido em quatro braços: Pisom, Giom, Tigre e Eufrates (Gn.2:10-14). Cada um desses rios representa um aspecto do Amor e do Propósito de Deus para com Sua criação.
Esses quatro aspectos também podem ser percebidos na visão que João teve do Trono de Deus.
Além do mar de cristal que estava diante do Trono, e que representa a Eternidade, que não está sujeita ao fluxo do tempo, João também vê “quatro seres viventes cheios de olhos por diante e por detrás. O primeiro ser era semelhante a um leão, o segundo semelhante a um touro, o terceiro tinha o rosto como de homem, e o quarto era semelhante a uma águia voando” (Ao.4:6b-7). Cada um desses seres viventes corresponde a um aspecto do amor de Deus revelado em Seu glorioso propósito para com a Criação de um modo geral. À medida que estudarmos essas dimensões do amor de Deus, vamos traçar paralelos entre elas e essas criaturas misteriosas.
As quatro dimensões que desvendam o alcance do amor de Deus também são encontradas no discurso de despedida de Jesus.
Observe cuidadosamente o que Ele diz:

“É-me dado todo o poder no céu e na terra (altura).
Portanto, ide e fazei discípulos de todos os povos, batizando-os
em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo (largura),
Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado (profundidade).
E certamente estou convosco todos os dias, até a consumação do século (comprimento).”
S.Mateus 28:18-20.

Nos próximos capítulos vamos examinar com minúcias cada uma dessas sentenças, buscando compreender com maior exatidão a mensagem que Cristo intentou transmitir antes de ser assunto ao céu.