“Dominará de mar a mar, e desde o Rio até as extremidades da terra (...) Todos os reis se prostrarão perante ele, e todas as nações o servirão. Pois ele livrará ao necessitado que clamar, como também ao aflito e ao que não tem quem o ajude” (Salmo 72:8,11-12).
Foi na qualidade de Leão da Tribo de Judá, que Jesus bradou, como um leão que ruge após ser despertado: “É-me dado todo o poder no céu e na terra (Mt.28:18).
Como um Leão que demarca seu território, o Senhor proclamou a extensão do Seu domínio. Céu e terra formam Sua jurisdição. Nada escapa ao Seu domínio. Nem mesmo o inferno, conforme conferimos em Apocalipse 1:18.
A primeira vez em que o Messias prometido a Judá é comparado a um leão é quando Jacó abençoa os seus filhos antes de sua morte. Ao abençoar a Judá, tribo de onde viria o Rei dos reis, ele diz:
“Judá é um leãozinho. Subiste da presa, filho meu. Encurva-se, e deita-se como leão, e como leoa; quem o despertará? O cetro não se arredará de Judá, nem o bastão de autoridade de entre seus pés...”
Gênesis 498:9-10a
Na Cruz, Ele “encurvou-se”, na sepultura Ele “deitou-se”, mas na ressurreição Ele “despertou-se” para vindicar o Seu domínio.
A extensão do Seu domínio também revela a extensão do Seu amor. Por isso Paulo ora para que os crentes de todas as eras compreendessem a largura deste amor.
O braço do rio que banhava o Éden que aponta para a extensão do domínio do Cristo de Deus é o Eufrates, que significa “irromper”, “surgir de repente”, “entrar com ímpeto”.
Quando Deus entrou em aliança com Abraão e sua descendência, Ele prometeu:
“À tua descendência dei esta terra, desde o rio do Egito até o grande rio Eufrates”.
Gênesis 15:18b.
O rio Eufrates determinava os limites da possessão dos filhos de Abraão. Cristo, porém, como o descendente de Abraão, recebeu o domínio “de Mar a mar, e desde o Rio até as extremidades da terra” (Sl.72:8). O Rio Eufrates não representa mais o fim de um domínio, e sim o ponto de partida. As nações Lhe foram dadas como herança, e os fins da terra por Sua possessão (Sl.2:8). Por isso, Jesus agora, depois de vencer a morte, pode ordenar aos Seus discípulos:
“Portanto, ide e fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome
do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”.
S.Mateus 28:19.
As boas-novas, que até então estavam limitadas aos judeus, deveriam ser espalhadas por toda a orbe terrestre, para testemunho de todas as nações.
A bem da verdade, os discípulos não compreenderam amplamente a extensão daquela comissão. Por serem todos judeus, não lhes era fácil dispor dos preconceitos que nutriam para os gentios.
Mas Jesus não deixou margem para dúvidas.
Lucas registra uma outra parte do último discurso de Jesus:
“Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas,
tanto em Jerusalém com em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra”.
Atos 1:8.
Pregar em Jerusalém? Tudo bem. Mesmo estando eles acostumados a centros menores, como Cafarnaum, Betânia e outros. Eles devem ter pensado: Que privilégio para nós, pescadores, simples galileus, pregar no centro religioso dos judeus. Judéia? Por que não? Afinal era a província na qual eles haviam crescido. Mas quando Jesus pronunciou Samaria, eles certamente levaram um choque. Ah, essa não! Aquela gente nojenta não merece ouvir as boas-novas do reino. Talvez fosse melhor pular Samaria, e partir direto para os confins da terra.
Entretanto, Jesus sabia que para que alcançassem os confins da terra, teriam que vencer seus fantasmas interiores, seus preconceitos.
Samaria fazia parte do projeto de Deus.
Durante algum tempo, os discípulos insistiram em ficar só em Jerusalém. Era como se quisessem adiar o projeto de Deus. Foi necessário que Deus permitisse “uma grande perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém, e todos foram dispersos pelas terras da Judéia e da Samaria, exceto os apóstolos” (At.8:1b). Nem mesmo uma perseguição foi capaz de remover os apóstolos de Jerusalém. Já que eles não iam, Deus dispôs-Se de crentes comuns, que “dispersos iam por toda a parte anunciando a palavra” (v.4). Gente como Filipe, um diácono, que descendo “à cidade de Samaria, pregava-lhes a Cristo” (v.5).
E sabe qual foi o resultado? “As multidões unanimemente prestavam atenção ao que Ffilipe dizia, porque ouviam e viam os sinais que ele fazia (...) Havia grande alegria naquela cidade” (v.6,8). Que vergonha pra Pedro, Tiago e os demais apóstolos que ficaram entocados em Jerusalém! Deus teve que usar Filipe pra vê se os despertava. E pelo jeito, a estratégia de Deus funcionou. Pois Lucas relata que “ouvindo os apóstolos que estavam em Jerusalém que Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João (...) Tendo eles testificado e falado a palavra do Senhor, voltaram para Jerusalém, e em muitas aldeias dos samaritanos anunciaram o evangelho” (At.8:14,25).
O amor de Cristo que enchera o coração de Filipe finalmente vencera o preconceito.
Hoje, há muitas igrejas que estão se especializando em determinados seguimentos da sociedade. Grupos especializados em atingir as chamadas tribos urbanas, tudo bem. Mas igreja inteiras que se acham especializadas e chamadas por Deus para ministrar com exclusividade a um determinado grupo? Isso não parece concordar com o que Paulo chama de “largura” do amor de Cristo.
Há igrejas para classe média, igrejas para empresários, igrejas para esportistas, e até igrejas étnicas. Esse fenômeno tem recebido maior força nos Estados Unidos, principalmente com a ascensão do movimento conhecido como Frendly Church (Igreja Amigável).
Há igrejas anglo, onde não há lugar para representantes da comunidade hispânica. Há igrejas coreanas, chinesas, nipônicas, e, pasmem, até brasileiras.
Mas Jesus não disse que a Sua casa seria chamada casa de oração para todos os povos? Quem nos deu o direito de limitar a extensão do amor de Cristo.
Como podemos conceber uma igreja de negros em pleno século XXI?
Se há igrejas étnicas, é sinal de que há pessoas que não se sentem bem, e até se sentem discriminadas em certas igrejas regulares.
Conheço um empresário que estava profundamente decepcionado com sua igreja, porque lhe obrigava a participar de uma célula composta apenas de empresários como ele. Ele preferia se misturar com o povão. Ele contou-nos que nas reuniões da célula, havia um tipo de competição entre as pessoas. Todos queriam contar vantagens, e exibir como troféus suas últimas conquistas profissionais e financeiras. Sob o pretexto de testemunho, usava-se humilhar aqueles que não tinham o que contar. Não se podia distinguir quando alguém queria glorificar a Deus, ou gabar-se.
A igreja deve está aberta a todos os povos, sem demonstrar predileção por ninguém.
Tiago nos admoesta severamente: “Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado” (Tg.2:9a).
E Paulo arremata: “Desta forma não há judeu nem grego, não há servo nem livre, não há macho nem fêmea, pois todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl.3:28). Portanto, não lugar pra qualquer tipo de preconceito, nem racial, nem social, tampouco sexual.
Não há uma etnia que seja superior à outra. Ninguém é preferido ou preterido por ser judeu, negro, anglo-saxão ou hispânico.
Quando estreitamos nossas ações, por conta de algum preconceito, ou apenas por preferência, é como se estivéssemos represando as águas do Rio de Deus, impedindo que deságüem sobre aqueles por quem Ele morreu. Há questões que são secundárias, como por exemplo, as de cunho cultural.
Para sermos veículos do Amor de Deus, e levarmos o Evangelho à toda criatura, temos que nos despir do orgulho cultural. Questões acerca de vestimentas, dietas alimentares, música, não têm a menor importância, em comparação ao amor de Deus. Parafraseando o grande apóstolo dos gentios, se por causa da comida, ou de qualquer outra questão cultural, se contrista o teu irmão, “já não andas conforme o amor. Não faças perecer por causa da tua comida aquele por quem Cristo morreu” (Rm.14:15).
Muitos missionários americanos foram expulsos dos países pra onde foram enviados, por tentarem impor o estilo americano de vida como padrão de comportamento a ser adotado pelos povos que eram evangelizados.
Não podemos ter uma visão estreita do Reino de Deus.
Não precisamos exportar nossa cultura, nem temos a obrigação de importar a cultura alheia.
É sobre a igreja que Isaías profetiza:
“As tuas portas estarão abertas de contínuo, nem de dia nem de noite se fecharão,
para que tragam a ti as riquezas das nações e, conduzidos com elas, os seus reis”.
Isaías 60:11.
Estou convencido de que as riquezas das nações nada mais são do que suas expressões culturais. Há lugar para todos os povos e culturas dentro dos portões da Cidade de Deus. O fato de a Nova Jerusalém ter o mesmo número de portas abertas para cada uma das quatro extremidades da terra, demonstra que Deus não tem predileção por qualquer que seja a etnia, ou a cultura. Todos são bem-vindos à Cidade de Deus, que é a Igreja de Cristo.
Um dia veremos cumprida a visão registrada em Apocalipse, “de uma grande multidão, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, que estavam em pé diante do trono e perante o Cordeiro” (Ap.7:9).
E que tal se alargarmos um pouco mais a nossa visão acerca da extensão do Seu amor e do Seu Domínio?
3.1. O Amor de Deus se estende à Criação como um todo
Enganam-se os que imaginam que o amor de Deus está limitado ao ser humano. A obra da redenção realizada na Cruz deve abarca todo o universo criado, e não apenas os homens.
Na mesma visão em que testemunha o Leão da Tribo de Judá recebendo das mãos do Pai o livro que contém os propósitos de Deus para a criação, João também assiste a um fenomenal espetáculo. Tão logo o Leão da Tribo de Judá tomou o livro, “os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo todos eles uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos. E cantavam um novo cântico, dizendo:
“Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos, porque foste morto, e com o
teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, e língua, e povo e nação.
Para o nosso Deus os fizeste reino e sacerdotes, e eles reinarão sobre a terra”.
Apocalipse 5:9-10.
De repente, milhões de anjos unem suas vozes à voz dos quatro seres viventes e dos vinte e quatro anciãos, “proclamando com grande voz: Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvo” (v.12). Mas não acaba aí! Dá pra alargar mais o foco?
“Então ouvi a toda criatura que está no céu, e na terra, e debaixo da terra, e no mar, e a todas as coisas que neles há, dizerem: Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o poder para todo o sempre” (v.13). Aleluia! Que coral! Que sinfonia maravilhosa! Todos os que estão sob o Seu Domínio devem adorá-Lo.
Nem mesmo as criaturas irracionais escapam do Seu amor. Elas também o reconhecem, e O adoram. Mamíferos, ovíparos, répteis, anfíbios, peixes, pássaros, são conclamados a louvá-Lo:“tudo o que tem fôlego louve ao Senhor” (Sl.150:6).
Temos tido uma visão muito estreita do Reino de Deus.
Não consigo imaginar uma eternidade onde a única espécie viva será a humana.
Eu prefiro fazer coro com Davi, declarando:
“Ó Senhor, quão variadas são as tuas obras! Todas as coisas fizeste com sabedoria; cheia está a terra das tuas riquezas. Há o mar, vasto e espaçoso, onde se movem seres inumeráveis, animais pequenos e grandes (...) Todos esperam de ti que lhes dê o seu sustento em tempo oportuno. Quando lhes dás o alimento, eles o recolhem; quando abres a tua mão, enchem-se de bens. Quando escondes o teu rosto, ficam perturbados; quando lhes tiras a respiração, morrem, e voltam para o pó. Quando envias o teu Espírito, são criados, e renovas a face da terra”.
Salmo 104:24-25,27-30.
É muita pretensão nossa achar que o plano de Deus está limitado à nossa espécie. É bem verdade que Jesus disse que o ser humano vale mais do que as andorinhas. Mas isso não quer dizer que elas não valem coisa alguma. Pois se assim fosse, o Pai não as alimentaria.
Ademais, as Escrituras afirmam que os homens são “em si mesmos como os animais. Porque o que acontece aos filhos dos homens, isso mesmo também acontece aos animais; a mesma coisa lhes acontece. Como morre um, assim morre o outro. Todos têm o mesmo fôlego, e nenhuma vantagem têm os homens sobre os animais. Tudo é vaidade. Todos vão para o mesmo lugar; todos são pó, e todos ao pó tornarão. Quem sabe se o espírito dos filhos dos homens vai para cima, e se o espírito dos animais desce para a terra?” (Ec.3:18b-21).
À luz deste texto, quem se atreve a dizer que os animais não têm alma? Não me perguntem se há um céu especial para os cachorros, que eu não saberei responder. Entretanto, não posso descartar a idéia de que os animais também fazem parte do plano redentor de Deus. Eles estão entre as criaturas que gemem aguardando por serem libertadas do cativeiro da corrupção (Rm.8:21).
A sinfonia universal de adoração ao Cordeiro não estaria completa sem que nela se ouvisse a voz de todas as criaturas de Deus, até mesmo as que já foram extintas.
A extensão de Seu domínio abrange os sistemas planetários, as nebulosas, os cometas, os asteróides, as galáxias, os buracos negros, daquilo que aparenta ser infinito, ao mais ínfimo, o mundo microscópico.
Há mais de 10 mil cometas e asteróides, com diâmetro igual ou superior a meio quilômetro cruzando a órbita da Terra. Em 1993, um deles, o Swuift-Tuttle, com mais de dez quilômetros de diâmetro, passou perigosamente próximo. Se ele houvesse colidido com nosso planeta, seria o fim de todas as espécies vivas. Só o governo providencial de Cristo sobre o Cosmos pode explicar o fato de ficarmos ilesos diante de tais ameaças do espaço sideral.
Em 1908, um meteorito atingiu a região de Tunguska, na Sibéria, devastando uma área de centenas de quilômetros quadrados. Ainda bem que isso aconteceu em uma região despovoada. Se ocorresse em uma cidade como o Rio de Janeiro ou São Paulo, o número de mortos seria contado aos milhões. Não é uma questão de sorte, e sim de providência.
Há evidências científicas suficientes que apontam para a existência de uma Mente criadora e organizadora por trás do Universo. Para que a vida exista hoje, um conjunto de condições esteve presente desde seu início. Robert Jastrow, astrônomo e ateu declarado, confessa que o Universo foi muito bem pré-adaptado para o provável aparecimento da humanidade.[1] Pois se houvesse a menor variação na hora do Big-bang, alterando as condições, mesmo que pouco, nenhuma vida existiria. Terá sido isso mero acidente? Quais as probabilidades estatísticas disso? Praticamente zero. Vejamos ainda algumas condições presentes em nosso Universo para o aparecimento e manutenção da vida:
1. O oxigênio compõe 21% da atmosfera. Se a porcentagem fosse 25%, a atmosfera começaria a pegar fogo, se fosse 15%, os seres humanos morreriam asfixiados.
2. Se a força da gravidade fosse alterada em parte em 1040 (que significa 10 seguido de 40 zeros), o Sol não existiria, e a Lua se lançaria contra a Terra ou se perderia no espaço. Mesmo um pequeno aumento na força da gravidade resultaria em todas as estrelas serem bem maiores que o nosso Sol, fazendo com que o Sol queimasse de forma rápida e inconstante demais para sustentar a vida.
3. Se o Universo estivesse se expandindo a velocidade de um milionésimo menor que está agora, a temperatura da Terra seria de 10 000o C.
4. A distância média entre as estrelas na nossa galáxia (que contém 100 bilhões de estrelas) é 48 trilhões de quilômetros. Se essa distância fosse alterada apenas ligeiramente, as órbitas ficariam errantes, e haveria variações extremas de temperatura na Terra.
5. Qualquer uma das leis da física pode ser descrita como uma função da velocidade da luz (agora definida: 482 366 064 km por segundo). Mesmo uma variação pequena na velocidade da luz alteraria as outras constantes e tornaria impossível a vida na Terra.
6. Se Júpiter não estivesse na sua órbita atual, seríamos bombardeados com material espacial. O campo gravitacional de Júpiter age como um aspirador de pó cósmico, atraindo asteróides e cometas que, de outra forma, atingiriam a Terra. Não só o grandalhão Júpiter, mas todos os demais planetas de nosso sistema provêem um necessário escudo para proteger a vida na Terra.
7. Se a espessura da crosta da Terra fosse maior, oxigênio demais seria transferido para a crosta, o que tornaria a vida impossível. Se fosse mais fina, a atividade vulcânica e tectônica tornaria a vida insustentável.
8. Se a rotação da Terra durasse mais que 24 horas, as diferenças de temperatura entre a noite e o dia seriam grandes demais. Se o período de rotação fosse mais curto, as velocidades dos ventos atmosféricos seriam altas demais.
9. As diferenças de temperaturas da superfície seriam grandes demais se a inclinação axial da Terra fosse levemente alterada.
10. Se a taxa de descarga elétrica (relâmpagos) fosse maior, haveria muita destruição pelo fogo; se fosse menor, haveria muito pouco nitrogênio fixado no solo.
11. Se houvesse mais atividade sísmica (terremotos) muitas vidas seriam perdidas. Se houvesse menos, nutrientes no fundo dos oceanos e nos deltas dos rios não voltaria para os continentes por meio da elevação tectônica. Até terremotos são necessários para sustentar a vida como a conhecemos.[2]
Cientistas têm concluído que é necessário que o Universo tenha o tamanho e a complexidade enormes que a astronomia moderna revelou, para que a Terra seja uma habitação possível para os seres humanos.
Albert Eistein não hesitou em declarar: “A harmonia da lei natural (...) revela uma inteligência de tamanha superioridade que, comparada a ela, todo pensamento sistemático e toda ação dos seres humanos é uma reflexão absolutamente insignificante” (Einsten, p.40).
E quanto ao mundo microscópico?
O corpo humano é composto de células, trilhões delas, que surgiram a partir da fusão de duas células, o espermatozóide e o óvulo. E de que são feitas as células? De moléculas. Todos os seres, animados ou inanimados, são feitos de moléculas. A diferença é que nos seres vivos, as moléculas produzem células, enquanto nos inanimados não. Entretanto, todos são feitos de moléculas. E de que são feitas as moléculas? De átomos. Estes são os tijolos da Criação. Tudo o que Deus criou no Universo, desde as estrelas até a mais singela flor, é feito desse “tijolo” chamado átomo.
E por incrível que pareça, só há 92 tipos de átomos em toda a natureza. E como pode haver tamanha variação na obra de Deus? Como exclamou o salmista: “Ó Senhor, quão variadas são as tuas obras!” (Sl.104:24a). Tudo depende das combinações que houver entre esses 92 tipos de átomos. São como letras de um alfabeto. Em nosso alfabeto existem apenas 26 letras, mas com elas pode-se escrever qualquer coisa: desde as mais aterrorizantes manchetes de jornais, até as boas-novas do Evangelho.
Quem está por trás de tudo isso? DEUS. De acordo com Paulo, “todas as coisas foram criadas por Ele, e para Ele”. E mais: Ele próprio as sustenta pela palavra do Seu Poder (Hb.1:3). Ele é o início (Alfa), e o fim objetivo (Ômega), e ainda, o meio, pois é mediante Ele que “tudo existe” (Hb.2:10). Ele as domina por direito exclusivo, pelo fato de tê-las criado. Como diz Apocalipse: “Digno és, Senhor nosso e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, pois tu criaste todas as coisas, e por tua vontade existem e foram criadas” (Ap.4:11). Os neutrinos, os elétrons, os pósitrons, os “quarks”, os prótons e nêutrons, e o infinitamente pequeno pertencem ao domínio do Cristo de Deus.
Devo concordar com Sócrates, que há vinte e cinco século afirmou: “Aquilo que é constituído para alcançar um objetivo pressupõe uma inteligência que o produziu. Observando o homem, por exemplo, nota-se que todos os seus órgãos estão constituídos de tal modo que não podem ser explicáveis como obra do acaso, mas sim como obra de uma inteligência que idealizou expressamente a sua constituição”.
Quando levantamos as mãos para o alto, numa manhã ensolarada de verão, e sentimos o movimento do vento soprando em nossa pele, não nos damos conta de que algo maravilhoso está acontecendo. Ao passar por nossa pele, o vento deixa moléculas de todos os elementos químicos necessários para criar vida. Enquanto aquece nosso rosto, o sol irradia toda a energia geradora da vida. Em termos da Física, não passamos de um conjunto de moléculas e energia. Mas há algo que faz a diferença: um princípio invisível nos mantém coesos. Foi esse princípio invisível que nos criou a partir de um turbilhão de átomos espalhados pelo Universo.
A cada inspiração, inalamos centenas de milhões de moléculas gasosas. E em menos de um segundo, as que sustentam a vida, principalmente o hidrogênio e o oxigênio, entram em nossas células para criar enzimas e proteínas. Mas como elas sabem que têm de fazer isso? O fato é que não sabem. Não há diferença entre o oxigênio em nosso sangue, e o encontrado no tanque de um mergulhador; ou entre o açúcar em nosso cérebro e o que temos no açucareiro de casa. A diferença está naquele que determina o que o oxigênio deve fazer em nosso sangue, e o que o açúcar deve produzir em nosso cérebro. Esse princípio invisível é ninguém menos que aquEle que tem o domínio de todas as coisas. É Ele quem mantém vivas as células do nosso corpo.
Nossas células são quimicamente as mesmas tanto no instante que precede a nossa morte, quanto no instante em que morremos.
Somos informados pela Física que tudo que parece sólido, é na verdade 99,999% de espaço vazio. Dentro deste vácuo, pacotes de energia começam e deixam de existir milhões de vezes por segundo. Nós e tudo o que está à nossa volta não passam de uma nuvem de probabilidades, atualizando a si mesmos no chamado campo quântico, o que parece concorda com a afirmação bíblica de que não passamos de “uma brisa que passa”(Sl.78:39). Nada do que sentimos é digno de inteira confiança: nenhum odor, som, gosto, toque ou visão existe realmente. Nossos cincos sentidos nos emitem informações que muitas vezes não passam de meras ilusões. Nosso cérebro desaparece e reaparece a cada segundo e, no entanto, esse ato mágico, ocorre rápido demais para que possamos detectá-lo. Por isso somos convidados a viver pela Fé, e não por aquilo que vemos. Nosso homem exterior está constantemente se corrompendo, mas nosso interior é renovado dia a dia pelo Espírito daquEle que a tudo vivifica.
3.2. O Domínio de Cristo sobre a Ciência
A Ciência não escapa ao domínio de Cristo. A Física, rainha das ciências modernas, as ciências sociais, biológicas, e qualquer outro campo do saber estão sob o Cetro do Rei dos Reis.
As grandes descobertas científicas são por Ele permitidas e tuteladas. Tanto as que são fruto de ardorosos esforços e pesquisas, quanto as que surgem de insights, conhecido como serendipidade. Sua graça comum é quem capacita os homens a entenderem as leis que regem a criação, das quais Ele mesmo é o Legislador.
Se não fosse assim, como se explicaria a descoberta dos átomos pelos antigos filósofos gregos cerca de 400 a.C. sem qualquer instrumento que possibilitasse sua comprovação? Seriam apenas intuições filosóficas, uma vez que não se podia comprovar sua veracidade?
Foram necessários mais de vinte séculos para que em 1808 o cientista inglês John Dalton formulasse uma teoria que desse caráter científico à idéia do átomo como partícula constituinte universal da matéria.
Neils Bhor procurava desesperadamente pelo modelo do átomo e não conseguia realizá-lo. Ao relaxar a ponto de cochilar, sonhou que estava sentado sobre o sol e que planetas giravam ao seu redor; encontrara, finalmente, o que tanto buscava. Friedrich August Kekulé von Stradonitz (1829 – 1896) químico orgânico alemão, estava sonhando após um longo período de trabalho, quando descobriu a estrutura cíclica do benzeno. Descartes, o grande filósofo, além de ouvir vozes de aplausos, sonhou com um anjo, que também apoiava as suas idéias. Antonin Artaud declarou: "Eu abandono a mim mesmo à febre dos sonhos em busca de novas leis".
Em 1839, Charles Goodyear derrubou sem querer um pedaço de borracha misturado com enxofre dentro de um forno quente. Ao examinar o material, se deu conta de que ele ganhara algumas propriedades presentes no couro – força, elasticidade e resistência contra solventes. Descobria-se assim o processo de vulcanização para a borracha. A invenção tornou possível o desenvolvimento de diversas indústrias, incluindo a automobilística. Daí o nome Goodyear hoje ser sinônimo de pneu.
Certamente, o caso mais notório de serendipidade é mesmo o de Isaac Newton, pai da Física Moderna. Conta-se que Newton lia um livro sentado tranqüilamente no jardim de sua casa de campo, quando uma maçã caiu sobre a sua cabeça. De repente, Newton teve um insight: Seria a força que fez a maçã cair a mesma que segura a lua gravitando em torno da terra? A pergunta viria a ser a base da sua teoria da gravitação universal, conhecida como Lei da Gravidade.
Bem fariam os cientistas de hoje, se a exemplo de Isaac Newton, reconhecessem em Deus, a fonte de sua inspiração. Depois de ter alcançado a notoriedade, Newton mantinha sua humildade, a ponto de declarar: “Não sei o que pareço aos olhos do mundo, mas, para mim, fui apenas um garoto brincando na praia, entretido em descobrir de vez em quando um pedregulho mais liso ou uma concha mais bonita que o normal”.
É claro que isso não dispensa o preparo do cientista. O químico francês Louis Pasteur, que era um cristão devoto, chamou a atenção para o fato de que “no campo da observação, o acaso só favorece a mente preparada”.
Cristo é o Senhor até da Meteorologia. Que o digam os discípulos, que diante de uma inusitada bonança, exclamaram: Quem é este que até os ventos e o mar obedecem?
Uma visão pleromática não pode ignorar qualquer alcance que tenha o domínio de Cristo. Nada, absolutamente nada, fica fora do escopo de Sua autoridade.
Devo concordar com Joseph Cook ao afirmar que “Há um Deus na Ciência, um Deus na História e um Deus na consciência, e esses três são um”.[3] Não há razões suficientes que justifiquem que a Fé e as Ciências se ataquem mutuamente, alienadas em suas próprias trincheiras. Li em algum lugar que “o papel da ciência é catalogar a criação, e devolvê-la em ordem a Deus”. Nosso papel é dar nome aos bichos, porém, reconhecendo que eles foram criados por Deus. Alguns termos que hoje estão em voga eram completamente desconhecidos nos tempos bíblicos. Embora jamais devemos adulterar a mensagem das Escrituras, podemos apresentá-la com termos com os quais o homem moderno esteja familiarizado. Assim como João apropriou-se do termo “logos”, amplamente usado no mundo helenizado de sua época, para transmitir a mensagem de Cristo, não há nada de errado em usarmos termos científicos ou filosóficos de nossa época para apresentarmos a incontestável verdade do Evangelho. Paulo também usava termos usados pelos gnósticos de sua época, embora não endossasse sua doutrina, pelo contrário, a combatia implacavelmente. Em outras palavras, como disse Len Jones, “a tarefa do cristão é tornar o Senhor Jesus visível, inteligível e desejável”.
Estou convencido de que as grandes descobertas científicas são inspiradas por Deus. Ainda que muitos cientistas se digam agnósticos, ou mesmo ateus, eles estão servindo a Deus através de suas pesquisas e descobertas. E como isso pode acontecer? Pode alguém servir a Deus sem conhecê-Lo? Óbvio que sim. Se não fosse assim, Ciro, rei da Pérsia, não teria sido chamado por Deus de “meu servo”. E diz mais: “Ciro é meu pastor, e cumprirá tudo o que me apraz” (Is.44:28). E ainda: “Assim diz o Senhor ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita (...) eu te chamo pelo teu nome (...) ainda que não me conheces” (45:1,4). E o que dizer de Nabucodonozor, tirano babilônico, a quem Deus chama de “meu servo” (Jer.25:9)? Como podemos explicar isso? Provérbios 21:1 explica: “Como ribeiros de águas é o coração do rei na mão do Senhor; a tudo o que quer o inclina”. Se o Deus do céu domina sobre os reis da Terra, por que não dominaria sobre os cientistas? Não tenho dúvida de que boa parte das invenções que presenciamos no século passado foi inspirada pelo Criador. Louvado seja Deus pelas vacinas, pela telefonia que encurta distâncias, pela TV, pela Internet, e por todos os avanços tecnológicos dos últimos séculos.
A ciência é mais um instrumento da gloriosa orquestra regida pelo Criador. Entretanto, a ciência tem seus limites. Stephen Hawking, um dos maiores gênios da atualidade, reconhece isso: “Mesmo que a ciência possa resolver o problema de como o universo começou, não pode responder à questão: “Por que o universo se dá ao trabalho de existir?”. E acrescenta: “Eu não sei a resposta para essa pergunta” (Hawking, p.99). A resposta jamais será encontrada pela Ciência, pois pertence ao domínio da Fé. Só a Fé revela o propósito último de todas as coisas.
Robert Jastrow, sem querer dar o braço a torcer, declarou: “Que existem o que eu ou qualquer pessoa chamaria de forças sobrenaturais em ação agora é, creio eu, fato cientificamente comprovado”.[4] E ele mesmo conclui em outra obra: “Para o cientista que viveu pela fé no poder da razão, esta história termina como um pesadelo. Ele escalou a montanha da ignorância; está prestes a conquistar o pico mais alto; e, quando chega à última pedra, é cumprimentado por um bando de teólogos que estavam sentados ali há séculos”.[5]
A ciência pode revelar os fatos, mas jamais os propósitos por trás desses fatos. Ela pode identificar as leis, mas só a fé poderá revelar o Legislador. Como Adão, ela pode catalogar os bichos, mas vai continuar sentindo-se só, incompleta e impotente, até que aceite a provisão de Deus pela fé.
3.2.1. Amor ou Domínio?
Paulo fala sobre a extensão do amor de Deus, ao referir-se à sua largura. Entretanto, temos focalizado a extensão do Seu domínio. Será que estamos cometendo algum equívoco teológico ou exegético ao focalizarmos aqui o Seu domínio, em vez de Seu amor? Absolutamente. Não há como dissociar uma coisa de outra.
Ao exercer soberania sobre Suas criaturas, Deus não o faz por mero capricho, e sim para que possa garantir-lhe os cuidados necessários. Subscrevo as palavras de Leonardo Boff quando afirma que Deus é um Ser de cuidado. [6]
Stephen Hawking descreve em uma de suas obras como os valores dos diversos números fundamentais nas leis da natureza “parecem ter sido ajustados com precisão para possibilitar o desenvolvimento da vida” e como “a configuração inicial do universo” parece ter sido “escolhida cuidadosamente”.[7] De fato, Deus é um ser de cuidado. Ao exercer domínio sobre toda a Criação, Ele o faz no propósito de cuidar pelo bem-estar de Suas criaturas.
Na ótica humana, dominar tem outro sentido. Os homens querem dominar a natureza a seu bel-prazer, sem aceitar a responsabilidade de cuidar desse patrimônio divino.
Para melhor entendermos a questão de domínio dentro da ótica divina, recorramos a algumas passagens bíblicas que falam sobre isso.
Por exemplo: Em Gênesis lemos que Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança, e lhe ordenou que dominasse sobre todos os demais seres vivos (1:26-29). Animais selvagens e domésticos, plantas de todos os tipos, aves e peixes, foram confiados aos cuidados do homem. Ao empossá-lo no jardim do Éden, que era uma espécie de sede da criação, Deus ordenou que ele o lavrasse e guardasse. Lavrar significa desenvolver, promover o progresso, enquanto que guardar significa assegurar o bem-estar. Eis a natureza do domínio que Deus conferiu ao homem.
Deus desejava que o homem tivesse um relacionamento amigável com o resto da criação. Por isso, coube-lhe nomear a todo ser vivente (2:19). O homem era o zelador da criação. O mordomo a quem Deus havia confiado o cuidado de Seu patrimônio.
Na ótica cristã, dominar é servir. Foi Jesus quem admoestou a Seus discípulos: “Bem-sabeis que os governadores dos gentios os dominam e que os grandes exercem autoridade sobre eles. Não será assim entre vós. Pelo contrário, todo aquele que, entre vós, quiser tornar-se grande, seja vosso servo, e quem dentre vós quiser ser o primeiro, seja vosso escravo – tal com o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mt.20:25-28).
Se dominar é servir, cuidar, desenvolver, assegurar o bem-estar, logo, dominar é amar. Veja, não estou falando de dominar como fazem os gentios, a seu bel-prazer. Estou falando de dominar no sentido de exercer autoridade a fim de preservar, e promover o desenvolvimento. Assim como fazem os pais para com os filhos. Eles os dominam enquanto crianças, porque os amam.
Outro exemplo interessante é encontrado na primeira epístola de Pedro, onde ele exorta àqueles que exerciam autoridade na igreja: “Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente, não por torpe ganância, mas de boa vontade; não como dominadores dos que vos foram confiados, mas servindo de exemplo ao rebanho” (5:2-3).
O modelo que os líderes cristãos deve seguir é o de Cristo, não o dos dominadores deste mundo.
E ainda há um último exemplo que queremos pinçar das páginas sagradas. Paulo diz que as mulheres devem submeter-se aos seus maridos, como ao Senhor. “Pois o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo” (Ef.5:22-23). Posso entender o porquê das feministas esbravejarem quando ouvem a citação desse texto. Nossa sociedade não pode compreender o significado e a profundidade que se encerram por trás do princípio nele esboçado. Para que Cristo seja o Salvador, faz-se mister que também seja o Senhor. Ele não pode salvar aquele de quem Ele não é Senhor. Assim também, o marido, na qualidade de provedor da família, deve também exercer autoridade sobre ela, a começar pelo seu cônjuge, passando pelos filhos.
Como Deus poderia cuidar de algo sobre o quê não exercesse autoridade?
E Paulo vai mais longe: “Vós, maridos, amai as vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela” (v.25). Repare a relação entre autoridade e amor. Quem ama, cuida. Quem ama, se entrega pelo objeto de seu amor.
Assim também Deus, não apenas domina sobre todas as coisas, como também o faz para que possa cuidar dessas mesmas coisas, ainda que tenha de entregar-se por elas, como de fato o fez.
Portanto, quando falamos da extensão de Seu domínio, estamos também nos referindo ao alcance do Seu amor.
Ele possui amplos direitos de exercer domínio sobre Sua criação; vejamos alguns deles:
1º - Ele é o Seu autor – Lemos em Apocalipse 4:11b: “...Tu criaste todas as coisas, e por tua vontade existem e foram criadas”. O universo não é fruto de um acidente. Seria uma improbabilidade estatística afirmar o contrário. Seria mais fácil a explosão de uma gráfica resultar na composição de uma enciclopédia, do que o universo ser resultado do acaso. João reafirma isso, ao declarar que “todas as coisas foram feitas por meio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (Jo.1:3). Repare nisso: Não há absolutamente nada que tenha surgido por si mesmo. Não há seres autocriados. A Física procura descobrir as leis que regem as forças do universo, mas não admite que essas leis, por si só, denunciam a existência de um Legislador. Ora, se Ele é o autor, o Criador de tudo quanto há, nada mais justo do que Ele mesmo governar todas as coisas. É por ser a origem de tudo, que Ele Se apresenta como o Alfa.
2º - Ele é o Seu sustentador – Ele não abandonou Sua obra ao acaso, como afirmam os deístas[8], que comparam Deus a um relojoeiro, que deixou o relógio trabalhar por si mesmo, depois de lhe ter dado corda. O Deus da Bíblia participa de toda a dinâmica da Criação. Ele cuida pessoalmente de cada detalhe (Sl.104). Nem mesmo um pardal lhe passa desapercebido (Mt.6:26). Nas palavras do santo apóstolo, “todas as coisas subsistem por ele” (Cl.1:17). Este é o Deus das Escrituras “mediante quem tudo existe” (Hb.2:10). “Se Deus quisesse, e retirasse o seu espírito e fôlego, toda a carne juntamente expiraria, e o homem voltaria ao pó”, concluiu Eliú (Jó 34:14-15). Só há uma explicação para o fato de não termos sido extintos da face da terra: “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, pois as suas misericórdias não têm fim. Novas são a cada manhã” (Lm.3:22-23a).
3º - Ele é o Objetivo de toda a Criação – Ele não apenas é o Alfa, a origem, nem apenas o Mu, o meio pelo qual ela é sustentada, mas Ele também é o seu Alvo Supremo. Toda a Criação está vocacionada a encontrar em Deus o seu significado último. Paulo resume isso dizendo que todas as coisas são dEle, por Ele e para Ele (Rm.11:36). O universo foi criado para o Seu aprazimento. Portanto, devem existir em função d’Ele, e não para si mesmo. Aqui jaz o grande problema do universo. Enquanto as coisas orbitassem em torno de seu Criador, elas teriam a garantia da eternidade. Entretanto, algo surgiu que quebrou a harmonia entre a Criação e o seu Criador. Em vez de convergir, algo preferiu divergir, e nessa divergência surgiu a morte, a corrupção. Uma vez afastada do Criador, a criatura, quem quer que fosse, estaria destinada à morte, já que estaria desligada da fonte de sua vida. O advento do pecado foi a quebra da harmonia no universo de Deus. Alguém atreveu-se a reivindicar autonomia da fonte da Vida, por achar que deveria e poderia viver para si mesmo. O universo que até então estava fluindo harmonicamente, agora sofre uma abrupta queda. A Queda não diz respeito apenas ao homem, mas a totalidade do Cosmos. Afinal de contas, que é o homem? Ele é a síntese do universo. Através dele, a obra da criação alcançou o seu apogeu, e o que antes era apenas coisas inanimadas, e que através dos primeiros seres vivos (plantas e animais) passou a ter vida, agora, através do homem, passava a ter consciência. O homem é a conclusão da obra divina. Um passo em falso deste mesmo homem poria tudo a perder. A queda do homem pôs toda a natureza debaixo da corrupção. Houve um desvio nada acidental. E agora? Como reaver a harmonia original? Como reaver a propriedade de Deus, agora alienada pelo pecado? A Herança do Senhor foi profanada! Uma vez que Deus sabia de antemão tudo quanto haveria de acontecer, Ele já havia feito provisão para que houvesse uma correção na rota da Criação, colocando-a de volta em sua rota original, cujo destino é o seu Criador. Trata-se do plano da Redenção, arquitetado antes da fundação do mundo. Mediante esse infalível plano, estaria assegurada a “redenção da propriedade de Deus” (Ef.1:14). Agora, através de Seu sacrifício na Cruz, todas as coisas voltam a orbitar em torno dEle. Logo, Ele tem o direito de dominar tais coisas, tanto por ser o seu Criador, quanto por ser o seu Sustentador e Redentor.
3.3. Um Anti-Universo
O pecado desencadeou o surgimento de uma aberração cósmica, uma anomalia no Universo criado por Deus, que a Bíblia chama de Inferno, ou de Império da Morte.
Embora a Bíblia afirme que foi o próprio Deus quem o criou, ousamos afirmar que o inferno não constava da criação original. Ele seria a antítese do Éden. A Criação, agora prejudicada com a entrada do pecado, passou a estar sujeita à corrupção, ou numa linguagem mais científica, à entropia. O “senhor” do inferno, Satanás, passa a ser o príncipe deste mundo. O homem, por assim dizer, sublocou o seu domínio ao querubim rebelde. O mundo de Deus tornou-se o cenário onde Satanás construiria o seu império funesto. Satanás, como anti-deus, desejava estabelecer aqui uma espécie de anti-mundo. Mas em nenhum momento Deus perdeu o controle da situação. Poderíamos afirmar que Deus tinha uma carta na manga. O problema já estava resolvido mesmo antes de vir à tona. Uma vez que foi o homem quem entregou as rédeas a Satanás, competia ao homem tomá-la de volta. Mas como isso se daria, se o homem estava inteiramente comprometido com o Diabo? Como um ser que já nascesse súdito do império das trevas poderia insurgir-se contra ele? Somente Deus poderia fazê-Lo. Mas para isso, de duas uma: ou Ele driblava o princípio de autoridade que Ele mesmo estabelecera, tomando as rédeas do diabo diretamente; ou Ele Se fazia homem, para que, na qualidade de ser humano, porém sem pecado, pudesse reaver a Sua propriedade, sem quebrar o princípio de autoridade delegada. É claro que Deus só poderia optar pela segunda hipótese. Se bem que Deus não pensa dessa maneira. Ele não faz suposições antes de tomar qualquer decisão. Ele sempre soube o que fazer. Deus Se fez homem, assumindo em Si mesmo a totalidade da natureza humana, e sem que houvesse cometido qualquer delito, pagou pelos nossos pecados na Cruz. Ao morrer, Ele desceu ao Inferno, e ali, cara a cara com o Diabo, tomou-lhe as chaves da morte e do inferno. Pedro, em seu discurso em Pentecoste, asseverou que Deus ressuscitou a Jesus “soltas as ânsias da morte, porque não era possível que fosse retido por ela” (At.2:24). E por que não era possível à morte mantê-lo em suas garras? Porque Ele desfez a obra do Diabo (1 Jo.3:8). E que obra foi essa? A da rebelião que desencadeou na corrupção de todo o Universo criado. Por Ele ter sido obediente ao Pai até a morte, Ele pôde adentrar o terreno do inimigo, sem que este Lhe pudesse prender. E em Hebreus somos informados que Cristo, pela Sua morte aniquilou “o que tinha o império da morte, isto é, o diabo” (Hb.2:14).
A Cruz possibilitou a convergência de todas as coisas em torno de Cristo, o Deus-Homem, e não apenas isso, ela desferiu o golpe fatal no causador de toda a divergência: o diabo. Agora, o Cristo de Deus pode apresentar-Se como aquEle que tem “as chaves da morte e do inferno” (Ap.1:18). Nem mesmo o inferno está fora de Sua jurisdição. Na verdade, nunca esteve. Entretanto, Ele agora o domina como Deus e Homem. Um dia, porém, a morte e o inferno serão lançados no lago de fogo, onde, juntamente com o diabo, seus anjos, e todos quanto o seguirem, serão atormentados para todo o sempre (Ap.20:10, 14; 21:8).
Esse “lago de fogo” é também chamado de “segunda morte”, que seria uma morte definitiva. Quem ali for lançado será fadado a “viver” separado da Vida de Deus por toda a eternidade. Imagine um universo onde as coisas estejam entregues à sua própria sorte. Imagine um tipo de existência onde a melhor expressão encontrada por Jesus para classificá-lo seja “ranger de dentes”. Cabe-nos aqui uma ressalva: esta realidade foi preparada “para o diabo e seus anjos” (Mt.25:41). O homem entrou nisso de gaiato, quando deu ouvidos à serpente no Éden. “Apartai-vos de mim, malditos”, será a sentença ouvida por aqueles que preferirem viver para si mesmos, em vez de viver para aquEle que os criou. Uma vida apartada de Deus não é vida, é morte. O “lado de fogo” é uma espécie de universo sem Deus. É o universo imaginado pelos ateus e materialistas. Um universo sem leis, uma vez que o Legislador foi recusado. Um universo sem ordem, sem harmonia, sem provisão, sem propósito, onde “viver” será o pior de todos os tédios.
Ao enviar os ímpios para o Lago de Fogo, Deus apenas estará dando-lhes o destino que eles gostariam de ter. Mas isso lhes custará muito caro: a eternidade sem Deus. Esse é o preço da autonomia espiritual.
O ímpio diz: Não há Deus. Ele prefere um universo sem Deus. Então, ele o terá. E será tarde demais para arrepender-se. Até porque, o Espírito Santo não estará lá para conduzi-los ao arrependimento. Assim como “Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si”, e “os abandonou às paixões infames” “os entregou a um sentimento pervertido, para fazerem coisas inconvenientes” (Rm.1:24,26,28), Deus entregará os homens às suas próprias cobiças, permitindo que colham exatamente o que semearam, a corrupção. “De Deus não se zomba”, esbraveja Paulo, “tudo o que o homem semear, isso também ceifará. O que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna” (Gl.6:7-8). Se o diabo se põe como anti-deus, e o inferno, como império das trevas, é um anti-reino de Deus, ou anti-mundo, o Lago de Fogo será uma espécie de anti-universo. Um cosmo inteiro feito sob medida para quem despreza o Senhor. Como afirmou C.S.Lewis: “Há apenas dois tipos de pessoas no final das contas: aquelas que dizem a Deus: “Seja feita a tua vontade”, e aquelas a quem Deus diz, no final: “Seja feita a tua vontade”.[9]
Não creio que o “lago de fogo” será parte do Universo recriado em Cristo. Acredito que ele constituirá uma espécie de universo paralelo, governado pelo caos total.
O Universo de Deus é construído a partir da ordem. No universo de Deus os elétrons devem orbitar em torno do núcleo do átomo; os planetas têm sua órbita fixa ao redor do Sol. E todas as coisas têm sua órbita em Cristo. É assim que tudo deve funcionar.
Mas os ímpios são como “estrelas errantes, para as quais tem sido eternamente reservada a escuridão das trevas” (Jd.13). Por quê “estrelas errantes”? Porque se negam a orbitar em torno de Cristo.
Se perguntarmos a um Físico de que o Universo é construído, ele dirá que tudo é formado por quatro forças básicas: a gravidade, o eletromagnetismo, as interações nucleares fortes e as interações nucleares fracas. Estas forças se originam em Deus, e constroem toda a realidade do Universo criado. A gravidade é o que nos prende ao solo, mantém os planetas em suas órbitas. As interações nucleares fortes são responsáveis por manter o núcleo atômico unido e estável. Sem ela o núcleo explodiria, e toda a matéria se desfaria. As interações fracas são as forças responsáveis pela transmutação dos elementos e pelo descaimento radioativo. O eletromagnetismo é o que nós experimentamos como luz, calor e eletricidade. Portanto, tudo o que existe, planetas, estrelas, galáxias, flores, pássaros, e o próprio ser humano, são criados e mantidos através destas forças.
É difícil imaginar um universo em que tais forças estivessem ausentes. Seria um caos absoluto. Seria, por assim dizer, um inferno. Pois é isso que espera aqueles que não submeterem-se ao senhorio de Cristo.
[1] Esse argumento é chamado de Princípio Antrópico, e tem sido usado por muitos cientistas cristãos para comprovar o fato de que o Universo não é produto de um acidente, e sim criação de Deus, que o preparou para receber o homem.
[2] Norman Geisler - Enciclopédia Apologética, pg.45.
[3] Joseph Cook. p.111
[4] Robert Jastrow – God and the astronomers, p.15, 18.
[5] Ibid – A scientist caught between two faiths, p.105-6
[6] Leonardo Boff – Saber Cuidar – Ética do humano – Compaixão pela terra
[7] Norman Geisler - Enciclopédia Apologética, pg.47.
[8] Deístas – Crêem que Deus criou todas as coisas, estabelecendo leis para que existissem por si só, e as abandonou à sua própria sorte.
[9] C.S.Lewis - Cartas do Inferno, p.69.
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